segunda-feira, 1 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 17 -

- Milena Toscano -
- 17 -

O casal comprometeu-se em retornar a Natal logo na manhã de segunda feira, chegando ainda bem cedo. E eles convidaram Walquiria para acompanhá-los na viagem de volta, tendo a moça Walquiria de fato concordado e dito ao irmão Getúlio para trazer o seu carro quando viesse depois. E assim foi feito. Eram sete horas da manhã quando Glauco chegou à casa de Racilva, tendo saltado e vindo até a porta para agradecer a gentileza da sua mãe, dona Lindalva e ao seu pai, senhor Jonas Arantes. Quem estava presente também foi à sobrinha de Glauco. A moça também cumprimentou os pais de Racilva com um aperto de mão e um sorriso nos lábios ao dizer:
--- Está aqui a vossa filha! Sã e salva! Eu garanto! Só tem um problema: ela voltou sem o vestido de ida. Ela se esqueceu de colocar na bolsa e por lá ficou. Mas é possível que no sábado eu traga a tal vestimenta quando eu for à fazenda. – relatou Walquiria a sorrir.
--- Está bem. Não foi nada. Vestido se compra! – disse a mulher Lindalva um pouco acanhada
O homem ao ver o seu Jonas Arantes, pai de Racilva não fez grande esforço para lhe perguntar sobre o seu passado. E se ele lecionava no Colégio Atheneu por algum tempo.. O homem relutou e por fim disse ter sido um primo bem parecido com ele.
--- Não. Com certeza foi meu primo. Um rapaz distinto e de aparecia comigo. – falou por fim o velho Jonas meio acanhado.
---Pois eu jurada ter sido o senhor. Mas foi seu primo. É o mesmo que o senhor. Ele foi meu professor de Ginásio. – sorriu Glauco ao dizer tal ato.
--- Nessa terra tem muita gente que se parece com outra. E ele sendo meu primo, ainda mais – concluiu  o velho Jonas.
--- Bem. Nós vamos saindo. Essa é Walquiria, minha sobrinha. Professora. – relatou Glauco para dar mais importância a sua sobrinha.
--- Eu ainda não sou professora! – relatou Walquiria a sorrir.
--- Não é. Mas já tem o diploma. E agora é só querer. – respondeu Glauco olhando a moça.
Om um sorriso Walquiria se despediu de Racilva de dos seus pais, o mesmo fazendo Glauco Rodrigues antes de embarcar no seu Cadillac. E do interior do automóvel, ele lembrou a Racilva lavar a documentação. A moça fez sinal que sim.
--- Às nove horas. – declarou Glauco.
Em seguida Glauco e Walquiria tomaram estrada. Walquiria foi quem disse:
--- Ela é simples. – comentou a sobrinha de Glauco.
--- Muito simples mesmo. – comentou o homem.
Em sua casa, a mãe de Racilva perguntou assustada:
--- Que documentos são esses? – quis saber dona Lindalva atarantada.
--- Carteira de Trabalho. Eu vou pedir demissão, hoje, do emprego e estou, já, contratada como funcionária pública do Estado. – disse por vez Racilva.
--- Menina! Olha o que estas fazendo. Um emprego assim. – reportou Lindalva.
--- Quem tem de mais, maínha! É só um emprego! Não tem nada demais! – falou reticente a moça à sua mãe.
--- Jonas! Você está vendo o que deu nessa viagem? Do modo como o povo fala. – reprovou a mãe de Racilva.
--- Ora mulher. Deixa a moça progredir. Quer ver Racilva a vida toda atrás de um balcão de firma? Vai em frente minha filha. É muito melhor funcionária publica do que contar dinheiro dos outras. Falou brabo seu Jonas puxando por uma perna.
E o assunto de tira teima morreu nesse momento.
Quando eram oito horas da manhã, Glauco resolveu ir até o escritório do seu amigo Onofre para se atualizar dos assuntos acontecidos na política do Estado e do Brasil. Quando Glauco chegou ao escritório, esse já estava aberto, para a sua surpresa, pois o amigo chegava como de costume meia horas depois, uma vez ter o habito de tomar café e tagarelar com os outros companheiros. Ao entrar no escritório, Glauco deu bom dia e o colega estava lendo o jornal do domingo e apenas teve tempo de lhe dar bom dia também, sem tirar os olhos do jornal. Ela apenas se dirigiu a Onofre como modo de cortesia. E apanhou da mesa do amigo a segunda parte do jornal onde se encontravam apenas artigos sobre arte, poesia, cultura em geral e outros itens sem eira nem beira. Sentado de onde estava, tendo ao seu lado direito um cofre robusto, ele então falou ao seu amigo:
--- Sabe? Eu vou casar! – disse Glauco ao amigo.
Esse nem se importou com tal caso. Baixou o jornal dos seus olhos e atentou para a cara de Glauco, voltando a ler as noticias alienadas pelo tempo.
--- Só bosta mesmo. Eu sei. – respondeu o amigo com voz baixa.
E Glauco voltou a repetir ser seria a sua posição e estava esperando apenas o amigo falar se podia ser o seu padrinho e ainda na mesma segunda feira ir mais Glauco a casa da moça que ele estava a pedir em casamento.
--- Tu não se enxergas não cabra velha. Vem todo dia com uma estória!. Uma vez é de uma puta e agora me vem dizer que vai casar!. Toma aqui para o teu rabo!. Vai casar coisa alguma! – vociferou o amigo de Glauco.
--- Mas amigo, eu mesmo me casar! – explicou emocionado o homem Glauco Rodrigues.
--- Com quem? Com quem? Com a minha mãe que já está morta? – replicou com bastante raiva o amigo Onofre.

--- Não é com sua mãe. Deus a tenha em bom lugar. Nem quero ser seu padrasto. Eu vou me casar com uma moça decente. – replicou Glauco sem ler o jornal e pondo-se a caminhar pela sala.
--- Imagino quem é essa demente! – disse mais o amigo Onofre.
--- Demente não! É moça séria! E tem mais: é hoje! Você aceita em ir comigo para ser testemunha? – perguntou Glauco no meio da sala.
--- Não! – respondeu Onofre de forma total de não ir.
--- Tá bom. Eu convido outro! – e saiu Glauco da sala bem mal humorado.
No caminho do beco entre outros escritórios, vinha chegando Valdomiro, o chamado Chega-lhe a Bufa, bastante apressado como sempre andava. Ele passou por Glauco e recebeu um bom dia seco de quem nem notara a sua presença. Valdomiro estranhou o fato de ficou de pé olhando bem para Glauco indo embora.
--- Bom Dia! Não me ouviu não? – perguntou Valdomiro totalmente azedo.
--- Bom dia! Bom dia. Eu havia cumprimentado, Chega! – respondeu irado o homem Glauco.
--- Tá vendo! Tá vendo! Chega-lhe a Bufa é a sua mãe, seu porra! Ouviu! – respondeu no ato e se aproximando da escada por onde Glauco descia.
E correu até a janela do primeiro andar e gritou bem forte.
--- É a sua mãe. É ela que se chama de Chega-lhe a Bufa! – gritava Valdomiro enlouquecido.
Aqueles que vinham a transitar pela rua olharam para Glauco e começaram a sorrir de forma intempestiva. Glauco olhou os circunstantes e também sorriu, tendo apontado para o homem de cima do prédio a gritar toda ordem de impropérios.
--- Ele fica danado da vida a quem lhe chama de Chega-lhe a Bufa. – sorriu Glauco aos que passavam.
O pessoal da rua caiu na gargalhada e alguns chegaram a chamar:
--- Chega-lhe a Bufa!!! – chamado coletivo do povo andante.
--- É a mãe! É a mãe! É a mãe! – gritava enlouquecido o homem Valdomiro.
Os desaforos continuaram por tempo sem fim enquanto Glauco dobrava a esquina da Rua Dr. Barata e prosseguia até a sua repartição. No caminhar ainda encontrou-se com um homem baixo a vender a rifa de um par de sapatos e lhe ofereceu um número não marcado.
---Quer a sorte? – perguntou o homem vendedor de rifas.
--- Depois! – respondeu Glauco tentado passar para chegar a Recebedoria de Rendas.


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