sábado, 20 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 27 -

- SORRIR -
- 27 -

E Glauco foi até a mercearia apontada pela doméstica enquanto a sua noiva chegava à esquina, pasmada a indagar do noivo onde estava a anciã. Glauco respondeu não saber e estava indo naquele momento a uma bodega o outro lado, já na outra esquina de outra rua logo atrás da sua para saber se o bodegueiro conhecia a anciã.  Foi isso o que ele disse apenas e a sua noiva correu e pegou o noivo pelo braço, ainda a tremer de medo a dizer:
--- Eu vou também – relatou a noiva com muito medo pelo o ocorrido com ela.
--- Está bem. Vamos lá. Vamos ver se o bodegueiro conhece a pobre velha senhora. – disse Glauco com temor.
E dois saíram, juntinhos, até a bodega do seu Tenório, como se chamava o homem dono do estabelecimento comercial. Na bodega tinham várias pessoas e o homem fazendo entrega dos pedidos feitos a alguém. Moscas em profusão devido ao açúcar em saco aberto para todos e também na farinha, açúcar bruto e em outros artigos de venda do seu Tenório. Glauco soube do nome por causa de uma placa existente na frente à bodega na qual dizia:
--- “Bodega do seu Tenório” – retratava a placa do estabelecimento.
Após angustiantes momentos, Glauco teve a vez de ser atendido. E era muito pouco ou quase nada o seu pedido. Apenas Glauco indagou do seu Tenório sobre uma velha senhora, vestida de roupa simples cobrindo até os pés, com uma bengala de madeira, cabelos em desalinhos, todos brancos, caídos para os peitos e falando um pouco baixo ou quase rouca. O homem Tenório ouviu toda a narrativa e ao fim começou a tremer de pavor.
--- Dona Mariquinha! Ai meu Deus! Em pleno dia! E o que ela fez? – perguntou assombrado seu Tenório.
E a moça Racilva contou toda a estória de quando a anciã procurou contar. A casa onde ela estava era uma residência de um senhor de nome Eugenio. Ele morrera queimado no quarto de dormir. Foi tudo o relato da anciã. Então, o homem, seu Tenório, exclamou:
--- Ai meu Deus! Ela vem de dia também! – descreveu seu Tenório apavorado.
--- Foi isso o que ela disse! – destacou a moça toda constrangida pelo temor.
O homem Tenório, aperreado e tendo as pessoas para despachar e alguma pobre mulher a se chegar para ouvir a conversa declarou por fim, a despeito de um menino pedir um pirolito naquela ocasião.
--- Dona Mariquinha já morreu há muito tempo. Ela sempre aparece. Foi uma pessoa nobre e muito rica. O marido Eugenio morreu em sua cama de dormir todo queimado por conta de um cachimbo e uma luz de vela. – concluiu o homem ao senhor Glauco.
--- Morreu?!!! – indagou alarmado o homem Glauco.
--- Ai meu Deus! Vou desmaiar! – proferiu a moça Racilva já revirando os olhos.
Uma porção de gente acorreu para acudir a moça desmaiada. O seu noivo chegou com a moça nos braços para sentar em uma cadeira de palha. Uma mulher pediu de o povo se retirasse, pois precisava de “vento” para poder a moça respirar. Todo mundo por perto e noivo também. Seu Tenório a abanar a moça e Glauco a fazer respiração boca-a-boca.
--- Esfregue álcool nos braços! – gritou alguém para a mulher que fazia a fricção a seco.
--- Álcool! Tragam o álcool – pediu clamando o noivo da moça.
--- Agua nos pés. Água quente! – relatou alguém a pedir para a dona da bodega.  
Essa, mais que depressa, acudiu a moça sentada na cadeira de palha totalmente sem sentidos. Uma chaleira de água quente veio mais que depressa da cozinha da casa da bodega e a mulher pôs nos pés de Racilva retirando a sandália e pondo em uma tigela de ágata. Foram imensos dez minutos de desespero até Racilva recobrar os sentidos. O namorado apenas dizia:
--- Pela segunda vez meu Deus! – e caía no pranto incontido e amargo.
Era passada meia hora e Glauco ofereceu ao seu Tenório um pouco de vermute. Ele bebeu também e rezou para Racilva se recuperar de vez e tudo passasse em instantes. Nesse ponto a moça estava já em plena forma. Ela foi levada para o interior da casa da bodega e a mulher apenas:
---Está se sentindo bem? – perguntava a mulher de Tenório toda curvada para ver o rosto da moça ainda um pouco pálido.
--- Estou. Estou. Apenas as minhas pernas que tremem. - respondeu à moça a dona da casa.
--- É angustiante a pessoa que é vidente! – declarou a mulher em tom baixo.
Em seguida entrou Glauco na sala onde estava Racilva e voltou a indagar se ela podia esperar por ele. O carro estava encostado na sua casa e ele teve3 de ir buscar. A moça concordou e disse apenas isso:
--- Não vou morar mais naquela casa! – chorou Racilva ao dizer isso ao noivo.
Naquele dia Glauco desistiu de ir a Fazenda Maxixe. Ele e a noiva chegaram em casa de Racilva onde a moça ainda pálida confessava ao noivo não querer voltar a casa do Tirol. Podia-se procurar outra. Foi oque Racilva pontuou.
--- É. Na verdade, tem tempo. Você não precisa se vexar. – propôs o homem à sua noiva.
A sua mãe, mais que depressa veio ao encontro da filha. A moça se encontrava sentada na varanda da casa olhando para o além e sua mãe veio nervosa indagar o que estava a ocorrer. A moça respondeu.
--- Nada demais. – disse a moça.
--- A casa é boa? – perguntou dona Lindalva.
--- Ótima. Excelente. Mas eu não gostei muito da vizinhança. – reportou a moça.
--- Ora. Isso é o de menos. Você gostando é o que importa. – proferiu Lindalva sem saber o verdadeiro motivo.
--- Vamos ver. Vamos ver. – relatou Racilva descontente com a casa.
--- Eu também confesso que não gostei da vizinhança. – discursou Glauco querendo estar de acordo com a noiva.
--- E por não fica na casa velha? – indagou Lindalva.
--- Ela está vendida, praticamente. – relatou Glauco de cabeça baixa.
--- Assim procura outra. – disse a mulher.
O velho Jonas ía passando quando ouviu a conversa e indagou a razão da vizinhança.
--- É um povo “antigo”. Só isso. – reportou Glauco um pouco frio.
--- Pois se é antigo arranja gente nova. – sorriu o velho ao entrar em sua casa.
E passou algum tempo quando Racilva procurou saber de sua mãe de ela se lembrava de um senhor conhecido pelo nome de “Tupinambá”. E a mulher respondeu:
--- Ele mora nas Rocas. – fez ver a mulher.
--- Rocas? Tenho que ir falar com ele! – relatou a moça a seu noivo.
--- “Tupinambá”! Por que esse nome? – perguntou Glauco.
--- Não sei. Só sei que ele se chama “Tupinambá” – relatou Racilva descontente.
--- Estranho! O que ele faz? – indagou Glauco um pouco cismado.
--- Ele é do Centro Espirita “Tupinambá”. Eu tinha coisa de sete anos quando fui a ele depois de passar por outros Centros. E me tratei com ele. Depois, quando estava com 15 anos, estive outra vez com Tupinambá. E mais tarde, quando eu já estava com vintes anos, voltei a me consultar com o médium. Eu sei que tem outros Centros em Natal. Tem o Victor Hugo e outros tantos. O Centro da Maternidade. É um ótimo centro. Mas eu me acostumei com Tupinambá e quando cismo de algo me consulto a ele. É só. – falou a moça explicando a sua situação ao noivo.
--- Está bem. Eu não acredito muito no espiritismo. Mas, tem casos que eu fico a imaginar se na verdade aquilo é um fato de verdade. E se você pretende ir ao Centro, estou as suas ordens. Discorreu Glauco a sua noiva.
--- Eu agradeço bastante. Às segundas e quartas feiras tem trabalho no Centro. E às vezes tem trabalho também às sextas feiras. Eu tenho primeiro que ver como se prende os trabalhos para mim. Não sei. O caso de hoje foi um aviso. – concluiu a moça.
O homem olhou firme para Racilva e não disse mais coisa alguma a respeito do temor. Apenas pensou ser ela verdadeiramente um médium.

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