sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 26 -

- VAQUEIROS -
- 26 -

No sábado daquela mesma semana, Glauco Rodrigues foi à residência de sua noiva, Racilva Arantes por volta das 9 horas da manhã para ir com a moça a nova casa que o homem tinha adquirido no barro do Tirol, em Natal. A casa era moderna e ampla. O terreno media vinte metros de frente por cinquenta de fundo. Um casarão por assim dizer. O terreno era murado por todos os quatro cantos, tendo na frente um muro baixo com portão simples de entrada e ao lado um segundo portão mais largo para permitir a entrada de carros. No fim do terreno tinha a garagem de guardar o automóvel. A casa, propriamente dita, ficava a uns dez metros do portão do muro. Era larga, ampla e havia uma varanda onde pessoas podiam ficar noite e dia a conversar o que viesse na mente. Para um lado depois da entrada, era a sala de visita e depois, a sala de estar e ainda mais outro compartimento chamado sala de jantar. De um lado havia três quartos sendo um para os donos do imóvel e em seguida os dois quartos para os filhos de quem morasse na casa. Havia banheiros com chuveiro elétrico, aparelhos, bidés e ao lado esquerdo da casa, uma salinha e logo depois a cozinha da residência. Ao fundo, do lado de fora da casa, estava um quarto para os criados e depois um pequeno recinto servindo de banheiro e aparelho também para a criadagem. Outro aspecto da residência era o plantio de fruteiras tanto na frente com atrás do casarão. A garagem ficava ao lado, na parte esquerda da casa grande. De cor amarelada, pintada a ocre, ali era um esmero para quem morasse. E os novos proprietários foram ver essa moradia totalmente desocupada para ter a certeza de terem adquirido uma admirável residência.
Ao adentrar a morada Racilva não teve como prender o seu gosto ao dizer simplesmente:
--- Que luxo! – disse a moça de olhar deslumbrado.
--- É linda, não é? – indagou Glauco ligeiramente a sorrir.
--- Quem diria? O dono desse imóvel devia ter boa posse. – relatou a moça.
--- Com certeza. – proferiu por sua vez o homem.
O imóvel era todo estucado com madeira de pinho Riga. Um trabalho muito bem acabado para ninguém por defeito. Lustres e candelabros eram o fino do imóvel onde por toda a residência se espalhavam como um todo. Na moradia não havia nenhum tipo de móvel. Era tudo vazio. Nem uma folha de jornal cobria o chão. As janelas corrediças estavam fechadas. No primeiro quarto de dormir havia três portas, sendo uma para o lado da sala de visitas, outra para uma segunda sala e a terceira se comunicava com os cômodos das crianças, moças ou rapazes. Para o lado de fora havia janelas corrediças também. E uma porta de madeira ypê apenas na sala de jantar dando para o oitão. Na verdade, os portais da casa eram todos feitos em ypê. Bem como as janelas também corrediças eram também em madeira de ypê. Havia três janelas na parte direita da casa, com vidros opacos. Uma porta na parte de trás da casa podia entrar ou sair quem estivesse trabalhando na casa. Tudo era magnífico onde Racilva de Glauco estavam na manhã daquele sábado. E após andar a solta pela parte interior da moradia, a discutir o mais provável a ser posto em algum local, Racilva foi até o lado de fora a examinar todo o local para ver se nada mais faltava. O cheiro forte de ocre denunciava ter sido a casa repintada há pouco tempo. O noivo partiu para a garagem para ver se abria o portão da entrada do carro.
Enquanto a noiva estava a olhar a parte externa do imóvel, uma anciã caminhava a passos lentos pela calçada e a certo ponto ela parou e olhou para a moça Racilva. Encurvada pela idade mais parecendo uma letra “C”, passos curtos e vagarosos, cabelos em desalinhos caídos para a frente, quase compridos, a anciã observava a senhorita Racilva a examinar toda a casa grande. Após alguns minutos a anciã chamou Racilva e esta nem deu conta pelo convite. Porém a anciã em sua pequenez e encurvada, de chinelas quase cobertas pela saia comprida até ao chão continuou a chamar a moça com sua voz pequena e quase rouca.
--- Psiu! Moça! Venha cá! – chamou a anciã com sua voz acanhada.
Já havia alguns minutos que a anciã chamava Racilva e em certo tempo a moça escutou o chamado e ainda perguntou:
--- É esmola minha mãe? – indagou a moça a anciã toda acanhada.
--- Não. Venha cá! – vez vera anciã com a sua voz sumida.
Então, com certo temor, Racilva foi até o muro baixo da frente da casa e se prontificou, a saber, o que a anciã queria. E a velhinha disse afinal:
--- Minha filha! Você vai morar aqui? – perguntou a anciã a moça com sua voz tênue.
--- Sim. Meu noivo comprou a casa. Nós vamos morar aqui! – sorriu Racilva ao dizer a anciã.
--- Você conheceu o doutor Eugenio? – quis saber a velhinha com sua voz tênue.
--- Eugenio? Não que eu me lembre! – sorriu a moça um pouco pensativa.
--- Ele morreu! Morreu! Foi! Queimado! – respondeu a velha a sua ouvinte.
--- Nossa! Onde? – quis saber amedrontada a moça de boca aberta.
---Nessa casa! No quarto dele! Foi! Faz tempo! Ele morreu queimado! – disse a anciã e se afastou lentamente do lugar onde estava e caminhou apoiada em uma bengala de pau.
Aterrorizada com a noticia da anciã, a moça correu desenfreada para chamar o seu noivo no fundo do terreno e pedir para ele chamar a velhinha e lhe contar toda a estória. Arquejando pelo medo e pela corrida Racilva chegou onde estava Glauco e cheia de medo conseguiu dizer ao noivo.
--- Vá lá! Vá lá! Vá lá! A anciã. Logo! - -falou a moça assustada por tudo que ouvira da velha.
--- Vá lá o que menina? Estou vendo se abro esse cadeado! – respondeu o homem a sua noiva.
--- Não! Vá lá. Vá lá! Ela vai perto daqui! Vamos! Vamos! – chamou amedrontada a moça.
--- Espere! Vamos com calma! Vá lá aonde! Quem eu vou perguntar? E o que? – respondeu o homem já um tanto nervoso.
--- A mulher! A mulher! Eugenio! Eugenio! – respondeu Racilva amedrontada com o que ouvira a velha mulher falar.
--- Quem é Eugenio? – perguntou atrapalhado o doutor Glauco andando empurrado pela moça querendo olhar a cara de Racilva e sem poder pelo fato de correr para frente.
--- Eugenio! Eugenio! Pergunte à anciã! Ele morreu! – relatou a moça por certo com receio.
--- E eu sei quem é Eugenio? Todos morrem um dia! – proferiu Glauco atrapalhado com os empurrões de Racilva.
--- Não! Ela sabe! Ela sabe! – relutou a moça ao dizer o que ouvira.
--- Ela sabe o que minha filha? – indagou Glauco já chegando ao muro baixo.
--- Quem foi Eugenio! Chame-a! Logo! Depressa! Vai bem ai! – relatou a moça suando frio.
Por fim Glauco se agarrou na parede do baixo muro, olhou para um lado e para outro não encontrando ninguém a não ser um vendedor de caranguejo ao passar na rua pelo outro lado:
--- Caranguejo! Olha o caranguejo! Caranguejo! – dizia o vendedor de caranguejo.
De modo ele não vu a tal mulher anciã a caminhar vagarosa pela rua. Então o homem já um tanto nervoso quis saber o que havia dito a velha senhora. A moça já um tanto emocionada apenas soube dizer o dito pela anciã.
--- O homem morreu queimado em seu quarto! Foi o que ela disse! – relatou Racilva um tanto nervosa de medo e agonia.
E o homem Glauco voltou a indagar da sua noiva.
--- Que mulher era essa? – quis saber de imediato a indagar a sua noiva.
--- Uma mulher! Eu não sei quem é! Apenas uma velhinha. – contou Racilva a Glauco.
Passado alguns minutos e Glauco resolveu sair e procurar a tal anciã que assustou bastante a sua noiva naquela hora da manhã.
--- Espere aqui. Não vá sair! – proferiu Glauco a Racilva.
E largou a correr pela calçada até chegar a esquina da rua e nada viu. Ninguém ali para contar a estória a não ser o vendedor de caranguejo a oferecer o seu crustáceo. Uma doméstica varria a calçada na rua da esquina e ele então resolveu perguntar a moça se ela conhecia uma anciã naquela ou em outras ruas.
--- Não. Não conheço não senhor. Que velha? – perguntou a doméstica estranhado o fato.
--- Eu não sei. A minha noiva estava em casa quando essa anciã veio e disse para ela ser aquela casa onde morreu o doutor Eugenio. – fez ver Glauco a moça pobre.
--- (Eu) não sei. Faz poucos dias que eu estou morando aqui. O senhor pode saber no homem da bodega na outra esquina! – relatou a moça apontando para a mercearia ao longe.
--- Está bem. Obrigado. – falou Glauco a doméstica.

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