quinta-feira, 4 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 20 -

- VESTIDO DE NOIVA -
- 20 -

Em pouco tempo, Glauco Rodrigues e seu pessoal de viagem estavam na sala de visita da casa de dona Lindalva e do seu Jonas Arantes. O velho Arantes ainda não havia chegado à sala, pois estava no interior da sua casa a sacrificar galinhas, caso de fazer todos os dias. Foi Racilva quem o chamou para ver Glauco e os convidados daquela noite. Walquiria estava de pena sala a conversar com dona Lindalva, reclamando do calor  e de coisas simples da vida. Venceslau, o Piu-Piu, estava também de pé como Glauco sempre a sorrir para a dona Lindalva. Com um pouco de tempo surgiu na porta do corredor a jovem Racilva acompanhada do seu pai, senhor Jonas. Esse estava se limpando das penas de galinhas. Todo sujo como um criador, Jonas Arantes, a mancar por uma perna veio em seguida, limpando as mãos das penas das aves e foi de imediato dando o seu:
--- Boa noite. Como vai o senhor? Eu estava ocupado sacrificando galinhas para a entrega amanhã bem cedo. – relatou o velho estirando a mão para Glauco Rodrigues.
--- Eu sou quem digo: como vai o senhor? Bem, nós estamos aqui para uma solenidade especial não de grande importância. Porém é oficial. O senhor deve saber. Racilva foi admitida como funcionária da Recebedoria de Rendas. Amanhã, a moça está assumindo o seu cargo. Muito bem. (pigarreou Glauco). Mas, eu estou aqui, nessa hora para outra coisa a mais: Ninguém foi advertido. Nem mesmo Racilva. Eu quero saber se o senhor está disposto a conceder a mão de sua filha em casamento. É isso. Só. – sorriu Glauco ao olhar Racilva com atenção.
--- Meu tio! – reportou alarmada a sobrinha Walquiria apesar e fazer em baixo tom.
A mãe de Racilva ficou pasma com o pedido feito pelo homem. E quase foi ao chão. O homem Venceslau ficou na dele não se importando com coisa alguma. O velho Arantes, desconfiado, olhou para a filha e essa olhou para o pai. E então resolveu sorrir para amenizar a situação e não provocar alarme:
--- Mas eu? Como é que pode! – fez de conta a moça, pois não sabia de nada nesse sentido.
O pai da moça, de boca aberta, apenas declarou ser Racilva a parte mais interessada e quem podia dar a resposta. Proferiu tal assunto sem sorrir.
--- Mas meu pai! Que loucura! Eu nem sabia de tal caso! – sorriu e tremeu Racilva a um só tempo.
--- E então? O homem está esperando a tua resposta! – falou o homem sem maior comentário.
A moça tentou falar, mas não se aguentou e caiu em pranto a soluçar incontinente. Glauco sorriu e fez a vez de pai, pedindo de Walquiria a ação de por em mãos de Racilva o embrulho enrolado em papel de presente. A moça sentiu-se lisonjeada em poder fazer a entrega do presente ainda um mistério a todos os presentes. Então, Walquiria foi até onde estava Racilva encostada ao colo do pai e penas reportou.
--- Eu não sei de que se trata. Mas receba esse presente dado por meu tio. Creio ter ele muito bem escolhido. – dialogou Walquiria enquanto o velho disse a moça, sua filha.
--- Receba o presente. Eu estou cheio de penas de galinhas. – reportou o velho Arantes com pressa.
Então, Racilva se despregou do pai e, olhado Walquiria, com seus olhos marejados de lágrimas recebeu o conteúdo apresentado.
--- Mas vocês? O que eu faço? – reportou Racilva ainda a chorar.
--- Receba Racilva. É dado de coração. Agora, eu quero ver se te cabe bem. – concerniu Glauco a sorrir.
--- Mas do que se trata? – perguntou Racilva ainda a chorar.
--- Abra o embrulho. Você verá do que se trata. – sorriu calmo ao falar o homem Glauco.
Foi um verdadeiro encanto aquele presente de noiva. A emoção assumiu um total momento de encanto quando a moça desembrulhou todo aquele embrulho. E ela não mais se conteve. Chorava e sorria a um só tempo. Walquiria acalentava a moça e a mãe, dona Lindalva não cabia em orgulho por ser a Racilva sua única filha. E naquela ocasião estava sendo pedida em casamento por seu próprio chefe E ainda fez menção em pegar no tecido, porém disse apenas:
--- Linda veste. – falou a mulher emocionada e com lágrimas nos olhos. Um sutil sorriso se fez presente em sua face.
Glauco agradeceu ao velho Jonas e por fim falou.
--- A festa de noivado será no sábado na Fazenda com todos juntos para aclamar a noiva. – citou Glauco aos participantes da cerimônia. O desajeitado homem Venceslau ainda indagou com cisma.
--- O senhor vai casar patrão? – falou Piu-Piu com sua voz grossa e tenebrosa.
--- Para você vê. A gente também se casa! – fez ver Glauco.
--- É bom isso! – falou grosso. E com os lábios quase presos um ao outro.
O traje de noiva caiu bem na moça, depois de arranjos feitos por Walquiria e dona Lindalva sem poder ser percebido de modo algum por Glauco. As mulheres juntas estavam no quarto, alinhando o traje e os três homens foram até a sala de jantar tomar um cálice de vinho tinto e depois foi à família convidada a jantar aquela hora tardia da noite.
A notícia se espalhou depressa pela cidade a fora durante os dias da semana.  No dia seguinte, já estando a trabalhar em sua mesa na sala da diretoria, a moça não se continha em olhar o seu noivo. Para Racilva era pura novidade o ato de ser noiva. A jovem moça de vinte e seis anos jamais pensou em namorar e ainda por cima ser noiva ou se casar. Em um dia da semana, penetrou na sala de Glauco o seu amigo, então apenas conhecido, o cidadão Onofre. Após o entrevero instigante tido no escritório de Onofre é certo ter Glauco não mais aparecido pelo mesmo portal de sempre. Não por ser orgulhoso. E apenas por ter sentimentos, Glauco não mais apareceu no escritório do amigo ou ex-amigo. É certo ter ido Onofre muito mais para se desculpar daquele desentendimento. E foi assim que se deu:
--- Amigo. Por onde andas? Não mais apareceu? – quis saber Onofre olhando depressa a moça
--- Tempo. Tempo. Aliás, eu me lembro de ter te convidado para o meu pedido de casamento. Mas, ao que parece o amigo não deu tanta importância. Eu sei. O amigo é bastante ocupado. E era apenas um pedido de casamento. Eu ainda estou viúvo. Mesmo assim, algum dia eu pretendia recomeçar a vida. E esse dia chegou. Muita gente tem a esperança de poder casar. E eu sou uma delas. Contudo, nem mesmo os amigos acreditam. O que é uma lástima. – disse Glauco escrevendo em seu birô em olhara cara de Onofre.
--- Mas eu pensava ser brincadeira do “Irmão”. – sorriu sem jeito Onofre. E olhou para a secretária de Glauco.
--- É. Podia até ter sido. Mas não era como não foi. Eu, agora, vou me casar. Dentro de um mês, dois ou três. Isso vai depender da casa que eu vou comprar. E por falar em casa, você não se apresse, pois eu já tenho uma nova. Não aquela. É outra! Amigo! Não somos mais amigos! – respondeu Glauco enervado.
--- Puxa companheiro! Não faça isso! Sempre seremos amigos! – falou Onofre e olhou a moça.
--- Nem sempre o termo sempre é mesmo o sempre. – confessou Glauco cheio de ira.
--- Te certo. Tá certo. Nem me apresenta a secretária? – perguntou Onofre querendo ir mais longe à conversa.
--- Pois não. Pois não. Racilva esse é Onofre. E Onofre essa é Racilva. A minha noiva. – repostou de vez o doutor Glauco e abriu a porta de entrada para o homem sair.
--- Com licença! Estamos ocupados! Qualquer assunto procure seu Ribeiro. Ele responde! – fez ver Glauco e fechou à porta à saída de Onofre.
O homem Onofre saiu como ninguém já havia saído do Gabinete do Doutor Glauco. Enervado, ele dizia coisa com coisa, reclamando da sorte. Cego da vida.
No sábado, Glauco Rodrigues acompanhado de Racilva e os seus pais, Jonas e Lindalva, seguiu direto para à Fazenda e após as irmãs Walquiria, Renata e Getúlio, esse dirigindo o carro de Walquiria. A manhã era de sol. Todos alegres no carro de Walquiria. Enquanto no Cadillac, seu Jonas era o menos satisfeito por conta das galinhas a entregar, apesar de ter posto mais dois empregados para fazer o trabalho para com os vendedores das aves. O sertão era ostensivo. Conhecer era normal para quem era do sertão propriamente dito. Quem não fosse do sertão apenas admirava o mato verde ou mesmo seco. A caatinga lembrava os tempos idos dos avós e bisavós, homens de bravura e destemor. A Fazenda Maxixe ficava em um ponto mais alto entre as serras onde havia a chamada Serra Grande, uma cidade de pequeno porte. Em compensação, a criação de gato era soberba se estendendo do gado de leite ao gado de corte. Os vaqueiros arredios da região extraiam leite para a venda ou faziam o queijo de manteiga e de coalho e mesmo a manteiga e ainda a do sertão. Os caminhões passavam todos os dias para apanhar leite, queijos e manteiga dos desconfiados vaqueiros e traziam para Natal, a capital do Estado.

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