domingo, 21 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 28 -

- SOSSEGO -
- 28 -
No mesmo sábado à noite, Glauco Rodrigues tinha retornado para o quarto de Hotel a ficar pensativo no que aconteceu pela manhã quando da visita à elegante casa recém-adquirida de um escritório de vendas de imóveis. Ele pensava na noiva e como teria visto a velhinha em forma de uma sigla “C’ como chegou mesmo a declarar Racilva”. Uma anciã como moribunda, quase 90 anos ou se não mais a arrastar os pés calçados de chinelos de couro. Uma anciã uma vez rica, de verdadeira posse, ter morrido e apenas aparecer a uma médium como pessoa pobre de Jó. Esse susto atormentava Glauco a todo instante. Ele passou o dia na companhia de sua amada noiva. Eles almoçaram em casa de dona Lindalva, mãe de Racilva e eles ficaram o tempo todo a conversar asneira sobre visão e antevisão com a moça a explicar a Glauco o motivo de ter feito tratamento em tempos remotos com o médium “Tupinambá”. O médio não clinicava. Apenas dava passes nas pessoas.
--- Tupinambá é um médium de fé. Hoje, está velho. Tem mais de sessenta anos. O povo ainda vai para as consultas com ele. – disse em sua conversa a jovem Racilva quando falava sobre o caso da anciã com o seu amado noivo.
--- E ele dá remédios? – indagou Glauco naquelas horas.
--- Não. Só dá passes e com isso a pessoa se cura. – falava Racilva tentando explicar a Glauco.
--- Passes? Que são passes? – indagava Glauco estranhado o que lhe dia a noiva.
--- Passes são passes! Ele coloca as mãos em nossas cabeças e fluidificam o nosso corpo. – relatava com sinceridade.
--- É. Pode ser! E a pessoa fica curada? – perguntava Glauco estranhado os passes.
--- Eu vi várias pessoas chegarem ao centro como mortas. E ele curava! – dizia Racilva ao falar sobre a mediunidade.
O homem conversou a tarde inteira sobre o método de tratamento do médium “Tupinambá” e então ele se lembrou de um homem chamado “Tenente”. Glauco não sabia o nome da pessoa. Apenas conhecia por “Tenente”. O homem refletiu bastante sobre as causas de Racilva Arantes ter visto a anciã àquela hora do dia. E comentou no seu quarto de hotel:
--- Será possível? – fez em monólogo o homem.
E pensou mais no fato de Racilva ter visto o quadro de Adélia Agar e ser tomada de pranto.
--- Tome conta dele! – refletiu Glauco de um temor de Racilva ao sonhar com a sua ex-esposa Adélia Agar em uma noite/manhã no quarto onde estava a dormir na companhia de tantas outras moças em um silencio reinante em todo o aposento. Ele se lembrou do caso por ter lhe feito saber a sua querida sobrinha Walquiria certa manhã, daquele dia onde Racilva Arantes se levantou assustada e amplamente molhada de suor.
No momento em que Glauco refletia no caso, alguém bateu de leve, em surdina, a porta do quarto de Hotel como a lhe chamar a atenção. Ele teve um medo horrível por causa de sua noiva ter visto a anciã Mariquinha horas antes do dia. Glauco deu um tempo para se levantar da cama onde ele estava acordado olhando para o teto com as mãos encruzadas sob a cabeça. E disse apenas:
--- Quem é? – perguntou com temor o homem.
--- Abra. – disse uma voz. De imediato ele reconheceu a voz de Bete.
Sem maior tempo Glauco se levantou da cama e foi até a porta tendo aberto e visto por fora a jovem Bete. Sem saber o que dizer ele apenas perguntou:
---Que estás fazendo aqui? – indagou Glauco a jovem Bete.
--- Vim te ver, apenas. – sorriu a jovem e procurou entrar no quarto de hotel.
--- Estou cansado, hoje. Não tenho meios de fazer nada! – relatou Glauco a jovem.
--- Está bem. Eu respeito o senhor, doutor Glauco. Não é assim que se diz? – sorriu a jovem ao perguntar a Glauco as forma de se expressar.
--- É. Pode ser. Sei lá. O que queres? – indagou mais uma vez Glauco a jovem Bete.
--- Como disse: eu vim ver você. Apenas isso! – sorriu a moça e procurou se acomodar na cama, pisando no tapete vermelho enxugando os seus pés de qualquer resíduo. O homem olhou bem o tapete vermelho e fez cara de quem não gostava daquele visitante a pisar na sua alcatifa rubra. E então ele relatou:
--- Limpe bem os pés! – expos Glauco a sua dama.
---Estão limpos. Olhe! – e Bete levantou o pé para o homem. Esse estava de pé só a olhar meio de banda com a cara enfarruscada.
--- Eu hoje estou morto. – relatou o homem ao se espreguiçar com as mãos para cima para sair de sua tensão.
--- Imagino! Vocês fizeram? – indagou sorrindo a dama já deitada e com a cabeça apoiada no travesseiro feito de algodão.
--- Fizeram o que? Ela quem? Não fizemos nada! Ora! – disse Glauco prenunciado ter a moça sabido do seu romance com Racilva. E um tanto abusado e com sono ele se sentou na cama pelo outro lado.
--- Só perguntei. Não precisa ter raiva. Afinal ela é livre assim como eu. – falou Bete com um leve sorriso.
--- Pois sim. Chega prá lá que eu vou dormir! – articulou Glauco abrindo a boca com bastante sono.
--- Quer que eu vá embora? – perguntou Bete sorrindo.
--- Pra mim tanto faz! – discorreu o homem como quem estava a dormir.
--- Bruto! Estupido! Cavalo! Jegue! Pois não saiu só de ruim. – articulou Bete com raiva.
Nesse mesmo tempo o homem soltou gases malcheirosos e a moça se levantou às pressas e declarou com a maior ignomínia da vida.
--- Tá vendo o que ele faz?! Puto! Burro! Quadrado! – relatou a moça cheia de fúria.
O homem então sorriu e disse:
--- Cheiroooosos! – e Glauco sem temor caiu na risada com a moça de um salto se fez colada à parede com os braços encruzados, a cara amarada e os lábios presos entre os dentes.
A manhã surgiu tépida com as horas bem avançadas. Glauco olhou o seu relógio e faltava pouco para as oito horas. Ele procurou Bete a seu lado e essa já estava na cozinha do Hotel, era bem provável. O homem correu para o armário e examinou na bolsa o seu dinheiro. Nada faltava naquele momento. Ele voltou para cama e logo pensou em Racilva.
--- São oito horas meu Deus! – disse isso e se levantou correndo para o banheiro onde cumpriu as suas necessidades habituais da manhã. Então, depois de se barbear e tomar banho Glauco voltou ao seu quarto onde cuidou de se preparar para sair. Naquela hora ele pensou:
--- Hoje é domingo! Que besteira! Eu pensava ser segunda. – comentou consigo mesmo o homem.
Na mesa de refeição os outros senhores estavam a falar coisas triviais. Glauco chegou e cumprimentou os circunstantes e se sentou em uma cadeira a espera da refeição matinal. Ele teve o cuidado de verificar se Bete estava e conseguiu ver a moça lavando a louça da manhã. Enquanto isso, na sala de refeição alguém dizia:
--- Ela foi morta por um assaltante. Seu nome parece ser Maria dos Prazeres. O bandido tentou carregar o dinheiro da mulher e essa escondeu toda a grana. Então ela foi atingida por um tiro na cabeça. – relatou o homem assustado com o fato.
--- Que foi o bandido? – indagou outro homem.
--- Não sei o nome, Mas parece ser Badu ou coisa assim. Parece!. – relatou o homem sabedor do fato.
--- Incrível! Mas foi aonde que isso se deu? – perguntou amedrontado o homem inquisidor.
--- Lá pras bandas do forno. Forno do lixo. É. – disse mais o homem que sabia tudo.
Glauco ouviu a estória e nada comentou. Quando dona Dalila apareceu ele pediu um café e um pouco de mungunzá. Dona Dalila foi num pé e voltou no outro.
--- Pronto doutor. O que vai querer mais? – sorriu a mulher a olhar para a cozinha querendo saber se Bete esteve com ele. Ele fez com a cabeça que “sim” e nada mais pediu para o café.
Em instantes, Bete apareceu na mesa grande do hotel e falou baixo a Glauco.
--- Esteva bom ontem? – e sorriu como uma safada.
Glauco nada respondeu.

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