quinta-feira, 18 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 25 -

- TERNURA -
- 25 -
O telefone tocou e Glauco atendeu de imediato na manhã daquele dia de quarta-feira. Era Walquiria quem ligava. Ela, de imediato indagou se a casa grande de Petrópolis já havia sido vendida. De imediato, Glauco respondeu que não. Estava à venda. Walquiria voltou a dizer ter passado na frente da casa e visto um homem a examinar o casarão. Ela não perguntou coisa alguma ao homem. Depois de tudo isso, Walquiria passou no local e soube do vigia se tratar de alguém do Recife. Ela ainda indagou sobre o que o homem estava interessado e ouviu:
--- Ele perguntou quem era o dono. Só isso. – falou o caseiro palitando os dentes.
--- Indagou o preço? – perguntou Walquiria um pouco curiosa.
--- Não! Só quem era o dono da casa! – relatou o caseiro e cuspiu para um lado.
Então a moça Walquiria resolveu ligar para o seu tio contando o havido. E ainda falou:
--- Espere! Ele deve aparecer! – relatou a moça apreensiva.
--- Nem se vexe. Eu coloquei à venda. E a casa do Tirol, só falta receber os papeis. – fez ver Glauco sorrindo.
--- Onde está Racilva? – indagou a moça querendo conversar com a outra moça.
--- Racilva é para ti. – falou Glauco a sua noiva.
E ela prontamente atendeu ao telefone ouvindo Glauco dizer quem, afinal, estava no fone. Com um sorriso discreto, a moça pegou no respectivo aparelho e passou a conversar miolo de quartinha com Walquiria a lhe chamar para ir à praia de Pirangy, na quinta feira outra, pois seria feriado religioso e toda a repartição estaria a fechar. Racilva concordou apesar de ter uma preferencia por conhecer a praia da Redinha.
--- Redinha é bem ali. – ressalvou Walquiria a sorrir.
--- Eu sei. Mas não conheço a praia. – sorriu Racilva querendo dizer “não”.
--- Olha boba! A praia de Pirangy é muito mais distante. Chama teu noivo e nós vamos. Eu levo você em meu carro. E tu também. Ouviu? E com o meu tio. Aproveita o feriado! Tchau. – despediu-se Walquiria sorrindo.
Logo a seguir Glauco indagou da sua noiva se ficou certo em ir para a praia de Pirangy ou a praia da Redinha. Racilva então sorriu como se estivesse envergonhada ou coisa desse modo e apenas disse:
--- Ela quer ir mesmo para Pirangy. – sorriu com a cabeça de lado a noiva de Glauco.
--- E o carro? – quis saber Glauco enquanto anotava e em um livro de algo que ele estava a fazer.
--- O dela. Ela, você e eu. Não sei se tem mais gente! – explicou Racilva a trabalhar.
Na hora do almoço o casal de noivos estava a apetitar a comida feita no famoso Grande Hotel. A música suave de um piano acudia aos ouvidos dos participantes do almoço. Era gente nobre a tagarelar sobre assuntos de política, comércio, indústria entre outros assuntos. Alguns dos presentes ao almoço estavam com as suas matronas bem ornamentadas e cheirando a água de toalete bem comum naqueles tempos.
--- Que cheiro horrível! – reclamou baixinho à noiva ao seu noivo.
--- É a alta sociedade! – declarou com um sorriso o seu namorado Glauco Rodrigues.
--- Nossa! – vez ver a moça com um ar repugnante.
--- É bem comum esse cheiro. As matronas gostam muito. – aduziu Glauco como a segredar a sua noiva bem atraente e modesta.
--- Eu queria ver essas mulheres a lavar roupa no riacho das Quintas! – respondeu Racilva arrebatada de aversão olhando as matronas cheias de brincos, colares e pulseiras vestindo um traje de matinê.
Após um ligeiro instante o garçom chegou à mesa dos habituais consumidores do Hotel com uma travessa de prata onde se podia ver um ensopado de lagosta à moda da casa. Era um delicioso e enigmático prato capaz de extasiar a quem nunca provou a famosa lagosta. Não raro se degustava o camarão gigante como sendo uma lagosta pequena. Contudo, no Grande Hotel era servida, também, a lagosta propriamente dita apanhada na costa do Rio Grande do Norte quando a espécie estava a migar para o norte até o Ceará. E Racilva ficou surpresa com tamanha lagosta ora então servida.
--- Uma lagosta? – perguntou de forma surpresa a jovem moça a sorrir.
--- São pratos da casa! – respondeu o garçom ligeiramente arqueado em sua cintura.
--- Deve estar bastante gostosa. – sorriu o noivo entusiasmado.
--- Vinho ao gosto do cliente. – respondeu o garçom ligeiramente sorrindo.
--- É preferível um vinho verde branco de Portugal. Tem bom aroma a frutos tropicais. – relatou Glauco sem sorriso e procurando olhar o rosto de Racilva.
A moça fez um acanhado gesto e sorriu como quem estava aprendendo mais. O garçom olhou para a face da moça e pronunciou então:
--- Muito bem. Vinho verde branco. – e saiu do local procurando o bar onde pode trazer o chamado vinho português.
Fora do restaurante do Hotel, os garotos ficavam a admirar com atenção os consumidores a tomar seus preciosos vinhos, cervejas, vermutes e entre outros, a cachaça. Uma menina dos seus dez anos ficava sempre presa ao gradil de ferro de olhares atentos os consumidores que estavam no interior da sala do restaurante. Outros garotos menores brincavam com sementes de oiti, árvore abundante na pracinha ao lado direito do restaurante. A jovem Racilva ainda olhou para a garota e sentiu angústia de tal situação.   
À noite, quando Glauco deixou Racilva em sua casa e teve que voltar ao seu quarto de hotel onde ainda morava, ele se deparou com espanto a figura de Bete exuberante e bela no seu trajar estampado de um vestido novo. O homem já estava destrancando a porta do seu quarto quando a moça se encostou a ele. O temor se fez presente com o vulto de majestosa dona a sua volta. De espanto ele ficou.
--- Que susto, menina! – descreveu o homem ao ver aquela ninfa estranha.
E Bete sem temor, sorriu. E chamou a atenção para a sua veste própria de uma dama da noite em busca de seu grande amor. E depois de um curto e pequeníssimo espaço de tempo Bete indagou a sorrir relutante.
--- Que tal meu traje? – quis saber a moça com seus olhos piscando.
--- Nossa! Onde você arranjou tanto dinheiro para comprar esse traje? – perguntou Glauco ainda amedrontado pelo susto que tivera.
--- Advinha! – sorriu a moça a indagar de Glauco.
--- Sei lá! Nos bereus da vida! – comentou o homem já dentro do quarto de dormir.
A ninfa também adentrou no quarto e se sentou na cama onde o homem começou a tirar o seu traje de trabalho e ficou apenas de cueca e camiseta de algodão.
--- Nos bereus! É danado! Mas, não tem importância! Eu sou uma puta e viver nos bereus deve ser meu costume. – assinalou Bete a olhar o homem por inteiro.
--- Perdão! Não foi por querer! Algo saído sem pensar! – relatou o homem a fim de procurar acariciar a moça com bastante afeto.
--- Ah. Não tem importância! Deve ter sido em um bereu mesmo! Afinal eu sou uma puta! – disse a moça a se deitar de lado na cama do hotel.
--- Não foi por mau. São negócios que a gente diz querer e nem sabe por que! – relatou Glauco prontamente arrependido do pronunciado antes.
--- Tá bom. Não é nada, não. Eu vou embora para os meus bereus da vida. E não tenhas mais remorsos. – pronunciou pensativa a mulher.
--- Espere! Espere! Não vá agora! Eu quero te pedir perdão de verdade. É a minha incauta cabeça destroçada pela bebida. – respondeu assustado o homem.
A moça se levantou da cama, olhou bem o homem, fez uma cara de deboche e disse então para Glauco com o ar triste e compungido.
--- Veja bem o que o senhor vai dizer. Esse traje foi você quem me deu! Aqueles trocados de ontem, está lembrado? Pois foi! – relatou a moça!,  Ela abriu e trancou a porta saindo de vez.
--- Menina! Espere! – chamou em vão o doutor Glauber Rodrigues.

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