sexta-feira, 26 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 33 -

- DESEJO -
- 33 -

Logo após ter saído Glauco e a sua noiva Racilva da fazenda “Maxixe”, o coronel Timbó com um seu filho Ahrtur, se embrenhou mata adentro em busca da distante fazenda “Sossego” todos os da comitiva acompanhados de dez ou doze capangas, gente bem armada de rifle. Ao chegar à fazenda, montados a cavalos, duas horas depois, a tropa se apeou e o coronel Timbó seguiu casa adentro, em companhia dos filhos Ahrtur e Valdomiro, esse, pai da moça Walquiria, homem que tomava conta da fazenda e tinha criação de gado. Valdomiro era casado com dona Santa, cujo nome verdadeiro era Santina do Amparo Conceição, filha mais velha do velho Major Guilherme Carrilho homem rude e mal com os holandeses. Os avós de Guilherme eram de origem alemã. Carrilho era por parte da avó, espanhola. Valdomiro Timbó casou com Santa depois de roubar a moça há uns anos atrás. Daí a malquerença entre os dois: Guilherme e Valdomiro, caso que durou amplos anos.
Ao chegar à sede da Fazenda “Sossego” o velho Timbó mandou chamar o morador da terra conhecido por Nazareno do Saco, cujo nome verdadeiro era Manoel Nazareno. O Saco era por conta de onde ter ele nascido, na ribeira do Acarí. Houve uma contenda e Nazareno feriu outro rapaz saindo da terra e vindo morar da Fazenda “Sossego” com sua mulher, Dora, cujo nome era Doralice, e quatro filhos de tamanhos variados. Manoel era também chamado de Neco do Saco. Homem de pele morena, forte e alto, não conversava muito e respondia apenas o que lhe perguntavam. A resposta era:
--- Sim senhor. Não senhor! – respondia Neco do Saco.
Com a sua voz branda, nem precisava de muito assunto para ele logo se retirar do recinto mostrado ter entendido. Foi esse o Neco chamado pelo coronel Timbó. O jagunço foi numa perna e voltou na outra com Neco do Saco um pouco atrás e sem manter conversa com o jagunço. Ao ser recebido no alpendre da fazenda ele nada fez de gesto ao coronel Timbó e aos seus filhos, Ahrtur – também coronel – e Valdomiro. Com um chapéu de vaqueiro nas mãos, enrolado pelas abas como quem torce uma macaxeira, Neco do Saco entrou na casa acompanhado do coronel e dos seus dois filhos, e nada mais. O coronel abriu a porta do seu escritório e por lá ficou: os quatro: O coronel Timbó, os filhos Arthur e Valdomiro e Neco do Saco, calado como sempre. E foi o coronel Timbó quem falou:
--- É o seguinte, caboclo! Eu estou precisando de o serviço de vossa parte! – falou o Coronel com cara severa e sem meias conversas.
--- Pode dizer que eu faço! – respondeu Neco do Saco também sem meias palavras.
--- Pois bem! Tem um dono de uma Fazenda por perto da minha região. Ele mandou matar duas pessoas: a moradora Corina e o seu filho Fortunato. Esse foi enforcado. O nome do arrogante é João Duarte. Eu quero justiçar Corina e o seu filho. Teve também Chicão, um capitão do mato ter ele trucidado. Não precisa mais de outro. Apenas João Duarte. Você escolhe dois jagunços. E parte para o serviço. Os dois irão com você. Não precisa dizer aonde. – recomendou o coronel Timbó.
E o homem Neco do Saco apenas respondeu:

--- Sim senhor! – fez ver Neco.
E então Neco do Saco saiu do escritório. Fora, ele olhou bem os jagunços e escolheu dois sem dizer para que e o que fazer. E então os três homens rumaram em direção à fazenda de João Duarte. Nenhum falou coisa alguma. Apenas os três caminharam cerca de três léguas saindo do caminho tradicional de se andar e percorrendo trajeto mais a fora.
Quando o jantar terminou, Glauco e a sua noiva Racilva, agradeceram a atenção de dona Dalila e rumaram para fora. Logo atrás seguia dona Dalila a conversar coisas vãs. E Racilva nem bem pisou a calçada uma trombada de lado se deu. Ela não teve jeito de andar e a moça à outra também ficou na igual situação. Ia para um lado e para outro sem conseguir se desvencilhar. O noivo de Racilva ficou abismado com a situação das duas moças. Por fim, cerca de trinta segundos, Racilva teve a oportunidade de se refazer e olhar bem para a sua contendora e, alarmada soltou um breve sorriso:
--- Zilene! Você aqui? – reconheceu Racilva a sua contendora inoportuna.
--- Ora mais quem é! Racilva! – e gargalhou à vontade a moça.
--- Que susto, doida! – respondeu Racilva a sorrir
Nessa ocasião, o noivo de Racilva contemplou a moça e alerto se ela era a que estava no dia anterior da Fazenda do seu pai. E sorriu morto de curiosidade.
--- Eu mesma! Do senhor eu me lembro. Filho do coronel. – sorriu Zilene ao dizer tudo o que sabia.
--- É isso. E agora vocês se encontraram de frente. – falou Glauco sem fazer cerimônia.
--- Pois é! E Racilva para onde está indo? – indagou a moça com um largo sorriso na face.
--- Eu? Bem! Vim jantar com o meu noivo no Hotel onde ele mora! Agora vou ao bairro das Rocas a procura de um endereço. – respondeu sorrindo Racilva.
--- Ah bom. E eu vou ao teatro. Hoje não tem sessão. Mas a turma se reúne para ensaio. É isso. Chego um pouco mais cedo. Eu creio não haver ninguém por lá. – replicou Zilene sorrindo.
--- Ah bom. Você fez?... – indagou Racilva a Zilene.
--- Jornalismo. Mas nas horas vagas estou a fazer teatro! – disse mais a moça sacudindo o seu traje por causa da trombada.
--- Ah! Que bom! Ah se eu pudesse! – sorriu Racilva a olhar o seu noivo.
--- Faça também mulher. É bom pra saúde! – recomendou Zilene.
--- É. Eu sei. Mas não levo jeito. No próximo ano. ... Quem sabe? – sorriu Racilva a olhar o noivo
--- É ele? – sorriu Zilene a perguntar se o noivo não se importava.
--- Não. Não é Glauco. Problemas! Você deve saber! – sorriu Racilva a contemplar o noivo
--- Não. Eu não. Quem pode saber é você. – sorriu Zilene correndo a vista em cima do homem
E dentro de tais pensamentos estava Zilene Caldas a imaginar se de fato a moça sabia do caso com a outra, a Odete Agar. A moça pode ver os dois no maior ato sexual de mundo no horário da tarde do domingo, no dia passado. Porém Zilene ainda soube disfarçar o sabido.
--- Então. Eu esse ano termino o curso e pretendo me casar. Etc., etc. – sorriu Racilva a olhar o namorado.
--- E eu não tenho pressa com essas coisas. Estou trabalhando de dia e faço teatro à noite. É só oque tenho a fazer. – respondeu Zilene sorrindo e olhado o rapaz e a moça ao mesmo tempo.
--- É isso. Bem. Você vai me desculpar, pois eu tenho que ir ao bairro das Rocas. – declarou a sorrir Racilva.
--- Que nada. A gente se encontra por esses caminhos da vida. Até. – e saiu Zilene olhando bem para o homem.
Em seu pensar surtia a emoção de ter o homem feito lubricidade com a mulher às escondidas da noiva sem que Racilva notasse algo de anormal.
--- “E ela ainda é virgem? Nossa!” – pensou Zilene Caldas a percorrer o seu destino do teatro.
Quando o automóvel chegou à rua que dava acesso ao beco onde morada o médium, o homem tentou parar em cima de uma calçada existente no lugar. Um duplo batente impedia o carro a subir. Então, ainda sem jeito de dirigir o automóvel moderno, Glauco resolveu ficar em baixo da calçada. Os meninos curiosos olhavam com atenção aquele carro grande já ao início da noite. Racilva consultou o seu relógio:
--- Quase sete. Está perto de começar a sessão. – declarou a moça ao seu noivo.
--- O relógio do carro está marcado quinze minutos para a sete. – disse Glauco a olhar o relógio
--- O meu está um pouco adiantado. – relatou a moça já desembarcando do carro.
As casas no beco sem nome existentes no local estavam quase às escuras. Algumas com luz na sala de visita assim chamada ainda se podia perceber a existência de alguém. No meio do beco uma árvore frondosa, talvez uma tatajubeira, não permitia a passagem de um automóvel. Com isso, ficava bloqueada a passagem de um veículo qualquer. E se houvesse a oportunidade de um automóvel querer subir no local, com isso era impedido por existir uns batentes de dois ou três degraus. Após essa árvore, havia outro beco bem mais estreito. Esse levava a uns batentes de cinco ou seis degraus. Dessa forma, subir no beco era totalmente impossível. A casa onde Tupinambá (Severino era seu nome) ficava no meio do beco mais largo, do lado do sol por assim dizer. O primeiro beco. O que tinha plantado o pé de tatajuba. Naquela parte do beco as casas estavam mais escuras. A iluminação era e velas ou lamparinas. E poucas pessoas davam a cara naquela ocasião. O vento frio soprou vindo da praia. O galou cantou mais alto. Um cão latiu.

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