terça-feira, 30 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 35 -

- SESSAO ESPÍRITA -
- 35 -


No dia seguinte, Glauco comentou com Racilva o encontro tido com Zilene e a sugestão de se ir ao espírita Neco ou Nequinho como Zilene chegou a dizer. E ele perguntou do que Racilva achava em se ir a um novo médium. E disse mais:

--- O homem já é bastante idoso. Mesmo assim, faz atendimento em sua casa e na Federação onde tem reuniões. Não sei em quais dias. Ligue para Zilene e se informe mais a respeito de atender em casa. – falou Glauco na repartição onde estava.

--- Hum! Será que ele é bom mesmo? – indagou Racilva torcendo os dedos da mão.

O homem quase se irritou com a pergunta de Racilva Arantes. Mesmo assim manteve a calma e serenidade de quase sempre. E respondeu:

--- Só se sabe indo! Aqui é difícil saber! – respondeu Glauco à sua noiva.

--- Certo. Vou ligar para o Jornal. – declarou Racilva sem comentar algo mais.

E então Racilva Arantes falou com Zilene Caldas a respeito do médium espírita de um bom passado Neco ou Nequinho tendo sido acertado uma visita naquele mesmo dia à tarde, pois, segundo Zilene, para o espiritismo tanto fazia ser de dia como de noite para se atender aos “doentes” ou pacientes quem sabe: mesmo enfermos do espirito ou da alma em certo estágio de evolução. E logo após Racilva desligou o telefone ficando com certa emoção em continuar o seu dilema por causa da aparição da anciã dona Mariquinha na manhã daquele sábado.

Enquanto isso, na Fazenda “Sossego”, o velho coronel Timbó estava alheio às coisas da vida, uma vez ter seguido para a campanha com dois capangas o roceiro Neco do Saco, homem destemido e astuto, conhecedor das matas e da caatinga em busca do fazendeiro João Duarte, homem marcado para morrer pela vontade do velho e destemido Coronel. Era em vingança pelo assassinato de Corina e do seu filho Fortunato. E Manoel do Saco seguiu por diversos caminhos, subindo serras, descendo morros, vadeado rios, comendo tudo o que estava a sua frente em termos de animais ou aves e mesmo bichos iguais a cobras. Ele e os seus destemidos companheiros de campanha. Falar: muito pouco. Quase nada. Certa vez, um capanga assustou uma cobra cascavel e essa se armou para dar o bote iminente e fatal. O cavalo relinchou alto amedrontado com a serpente. O capanga companheiro de Manoel do Saco de nome Sandoval Modesto se armou de um punhal e desferiu na cabeça da serpente, tendo essa a morte instantânea. Por conta disso, Manoel do Saco fez uma tremenda volta para despistar algum possível olheiro de João Duarte, apesar de estar longe da fazenda malsinada, subindo serras, atravessando rios e a dormir separados distantes uns dos outros para despertar por volta das três horas da manhã, noite escura, e seguir caminho bravo cheio de pedras e seixos, cascalho abundante no interior das serranias. Um dia tomaram banho numa cachoeira, eles três para depois seguirem viagem por entre pedras e abrolhos. O sol era intenso. O mascar de fumo era a comida frequente dos três capangas. Era vez de cuspir para um lado. Um riacho estava bem perto dos três vingadores da morte de Corina, seu filho Fortunato e de Chicão, o esguio e temeroso capitão do mato. Eles sentaram sobre as pedras e começaram a pescar com linha e anzol, pois nem tinha uma vara de pescar. Sandoval Modesto foi mais esperto usando o seu canivete para matar um peixe. Manoel do Saco nem ligou e Zé Pedro, o terceiro capanga, fez o mesmo. E de caminho em aceiro de mata e coivara, a turma seguiu rodeando fazendo uma volta muito longa para se esconder mais para dentro dos altos morros agrestinos. E assim eles pernoitaram pela segunda vez bem eles separados um do outro.

--- Amanhã estamos da Fazenda do miserável! – relatou Manoel do Saco cuspindo longe e de lado aquela gosma de fumo preto.

Zilene estava pronta para seguir viagem à espera de Racilva e do seu noivo, na frente do Jornal no bairro da Ribeira. Eram três horas da tarde daquela quarta feira. O homem, um ancião, seu Neco estava em casa à espera da moça, pois havia sido combinada por Zilene a vista na quarta feira na parte da tarde. O vento soprava forte na esquina onde Zilene se encontrava e o seu traje lhe colava ao corpo deixando a moça assim desconfortável.

--- Chatice de vento! Espalha todos os meus cadernos de nota. – reclamou Zilene. Então ela procurou se esconder atrás de um pilar no alto da calçada.

A rua tinha pouco movimento àquela hora da tarde. Algumas pessoas passavam para um lado e para o outro. Outros chamavam os eventuais fregueses a olhar melhor os seus artigos postos à venda. Em uma agencia de Correio internacional era pouco o movimento de clientes. Um veículo de carregar defuntos entrava em um beco para parar logo em seguida. Zilene olhava tudo o acontecido.

--- Defuntos! Eu nem estou por perto! Acidente? – perguntou Zilene a si mesma como a se esconder daquele fato delituoso.

Carros e ônibus passavam. Um caminha carregado de madeiras vindo das Docas nem mesmo parecia um caminhão.

--- Troncho! Vai se quebrar! – sorriu Zilene ao ver o caminhão carregado de madeiras.

O caminhão parrou na próxima esquina e os trabalhadores de aluguel desceram da carroceria  e empurraram o veículo para a frente de formas a o carro pegar à força. O motorista era um velho mostrando ter sido um dia muito gordo. E gritava:

--- Empurra essa porqueira! – gritava o homem a seus empregados.

E Zilene sorriu a vontade. Ela pensava ter adivinhado a situação do troncho veículo. E olhando por entre o pilar do Jorna, a moça só fazia sorrir. Quase a gargalhar.

--- Eu não disse que ele se quebrava. – recitava a moça a bater os dedos.

Nesse meio tempo, encostou junto ao meio fio o carro conduzido por Glauco Rodrigues. Uma voz de dentro do carro soou. Era Racilva. Ela dizia entre gestos.

--- Vamos embora! Já é tarde! – gritou Racilva para a moça.

E Zilene desceu os batentes do jornal na carreira miúda de sempre ao mesmo tempo dizendo:

--- Já estou indo! Que demora a de vocês! – reclamou Zilene pelo custo da viagem.

--- Três horas. – respondeu Glauco a olhar Zilene baixando a cabeça.

A moça verificou o seu relógio para ver se estava certo. O vendo forte acoitou a sua veste fazendo a moça se proteger se virando ao contrario e abrindo a porta de detrás. E respondeu em seguida.

--- Que vento caningado!  - retrucou a moça abrindo a porta para entrar no carro.

Dali em diante o veiculo seguiu em frente à procura da casa do ancião Nequinho, o homem. Ele já estava esperando há alguns minutos quando o carro chegou. A espera foi pelo motivo de Zilene ter feito um comunicado de uma moça estar a necessitar de uns passes e uma conversa sobre a sua vida passada. Após os cumprimentos habituais e rotineiros seu Nequinho (Manoel Revoredo era o seu verdadeiro nome) pediu ao pessoal a entrar em seu gabinete. Ali se encontrava uma estante de livros, um birô de abrir e fechar na parte superior, um sofá e mais três cadeiras além de um porta-chapéus e um modelo antigo de centro de quatro pernas, bem alto onde havia um jarro de vidro com um líquido com água. Os visitantes tomaram assento nas cadeiras e o ancião começou a indagar de Racilva a verdadeira estória. E ela contou da casa nova, de uma anciã por nome Mariquina, já falecida até a morte do médium Tupinambá, um homem aparentemente sadio e se desencarnou quando recebeu um espírito maligno.

--- Muito bem. Vamos começar pelo principio. A dona Mariquinha. Você já estava a par do sucedido da casa? – indagou o ancião Nequinho.  

--- Não! Nunca! Foi a minha primeira vez de ter ido a casa! – relatou alarmada Racilva.

--- Está bem. Agora, concentre-se. E mais. Chegue até a um profundo sono. Durma. Eu estou fazendo uma transferência de sua mocidade. Durma. Durma bem. Agora me diga onde você está? – falou baixo o velho Nequinho enquanto auscultava as batidas do coração da moça.

A moça, aparentemente a dormir profundamente enfim disse algo como uma casa. E foi mais para trás, por ordem do médium a procura dessa casa.

--- Você dorme profundamente. Dorme sossegada. Durma bem e me diga o estado em que você esta. – falou pausadamente o médium.

--- Arvores! Tem árvores! Muitas árvores! Frutas pelo chão. Um homem! Sim! Tem um homem parecendo apanhar as frutas! – dialogou em profundo sono a moça.

--- Ótimo! Quem é esse homem? Você o conhece! Respire bem. Seu coração está batendo com muita suavidade. Respire! Quem é o homem? – perguntou o espírita.

A moça começou a chorar. Ela estava ali naquele lugar e o homem mandou que se retirasse. Foi isso o que ela se lembrou. E o médium voltou a perguntar quem era o homem. Ela hesitou em responder. E não sabia a razão. E o médium tornou a indagar com paciência e devotado apreço. Ela então respondeu estar em um sitio. Era um sitio onde ela morava com os seus pais. E isso era tudo o que sabia dizer. E o médium perguntou com vagar quem era o seu pai. A moça, em transe, respondeu aflita.

--- É ele! É ele! É ele! Eu sei! Eu sei! Ele! – ela dizia isso desesperada.

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