segunda-feira, 22 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 29 -

- SANDY -
- 29 -
Logo após o café da manhã, Glauco Rodrigues seguiu solitário e pensativo para buscar seu carro, um Cadillac onde estava guardado na garagem do Posto Ford, alguns metros do Hotel onde ele se hospedava. O dia estava calmo, próprio de um domingo, somente se ouvindo da Igreja próxima o Coro a rezar orações litúrgicas: era celebrada a missa das oito horas. Na Avenida Rio Branco não havia por acaso nada de atropelos a se notar naquela parte da manhã silenciosamente domingueira. A Rua Sachet cruzava com a Avenida Rio Branco. Algumas ébrias pessoas ainda vinham dos cabarés existentes no bairro. Na Rua Sachet, todas as oficinas ainda estavam fechadas e provavelmente não abririam a nenhuma hora daquele dia. Glauco seguia calmo até o posto de serviço da Ford onde estava um bombeiro a colocar gasolina em um automóvel de um notívago e desatento consumidor. Ao chegar ao Posto, Glauco Rodrigues teceu os seus cumprimentos ao bombeiro ou frentista dizendo ter ido buscar o seu carro. O frentista, meio agachado, ponto gasolina no carro, nada respondeu, olhando a bomba e o homem que acabara de chegar um pouco com pressa. Ao terminar de abastecer o automóvel, recebeu a conta e pôs-se logo à vontade se dirigindo ao carro do Glauco observando o interior do veiculo enquanto o seu dono tocava no arranco e deixava o carro a esquentar para poder trafegar em seguida.
--- O senhor vai por gasolina? – perguntou o frentista escorado no capô do carro.
O homem olhou o painel de controle do automóvel e disse então:
--- Vou completar o tanque. – falou Glauco ao frentista.
--- Quando o senhor for eu olho o nível do óleo, - respondeu o frentista.
--- Está bem. O seu nome? – indagou Glauco ao frentista.
--- João. Eu me chamo João. – respondeu João do posto ao mesmo tempo em que se afastava do carro e seguia para dentro do posto a buscar algo.
Após dez minutos Glauco Rodrigues já estava com o seu maravilhoso carro na bomba de gasolina abastecendo o veículo. O frentista, logo após abastecer o automóvel indagou do homem se queria ver o nível do óleo do motor. Glauco, meio a contragosto concedeu a permissão olhando para o seu relógio de bolso. A campara do motor se abriu e João do Posto olhou a vareta do óleo por mais de uma vez e bem atento chegou ao dono do carro mostrando o nível e dizendo.
--- Está baixo o óleo. Quer completar? – perguntou João ao dono do carro mostrando a vareta com o dedo apontando o nível em que estava o óleo.
Já um tanto aborrecido Glauco findou por dizer ser melhor colocar o óleo, pois se estava baixo, o carro teria que prosseguir viagem até o sítio onde Glauco teria que ir.  O frentista recomendou ao dono do carro ser melhor arriar todo o óleo e por novo lubrificante no automóvel, pois a mistura do novo com o velho combustível não adiantaria em nada. Isso deu mais coceira em Glauco ao dizer baixo:
--- Isso é uma merda! – fez vez Glauco de forma baixa.
Enfim, Glauco fez a manobra com o seu carro e foi até ao dique, pondo o veículo sobre o hidráulico e descendo do carro a seguir deixando o veículo em ponto morto onde o garagista pode mover o carro um pouco para trás. E demorou um tempo com o garagista tirando o óleo velho, aparando em uma bandeja velha e suja e buscando três latas de um litro cada qual para por no automóvel ao descer do hidráulico. João do Posto cuspia no chão imundo da garagem e ao falar relatou ao dono do carro:
--- Leva um tempo, mas é bom. O óleo do carro estava muito fino e o veículo podia bater a qualquer momento.
--- Bater o que?- perguntou Glauco ao mecânico como estranhando o assunto.
--- O carro bater. Deixar de rodar. Com o óleo baixo o carro bate. – falou o frentista.
--- Mas bate como? – perguntou surpreso com o termo empregado por João.
--- Se o senhor rodar muito pelo interior, vai ver carro batido. Ele bate. Não trafega mais. É isso. O motor amarra! – cuspiu João para um lado.  
--- Ah bom. Estou entendendo. Eu comprei esse carro faz uns dez anos. E nunca troquei óleo e nunca me disseram para fazer isso. – lamentou Glauco.
--- Agora, o senhor entra no carro e dá partida. Deixa o bicho em ponto morto. Só dê partida. Eu vou olhar como está saindo o óleo. – comentou João e foi para trás do veículo.
O homem obedeceu à recomendação do mecânico e entrou no carro. Deu partida e esperou resposta. O frentista demorou um pouco e mando o homem dar nova injetada no carburador. Glauco, obediente, fez o que João mandara. Apenas perguntou:
--- Mais? – indagou Glauco suando por tudo que era poro.
--- Não. Tá bom. – e o mecânico voltou até o motorista. Nesse momento veio com más noticias para o alarme de Glauco.
Limpando as mãos com uma bucha imunda o frentista deu seu parecer.
--- O carro tá bom. Mas eu recomendo o senhor trocar as camisas, molas de seguimentos, bronzinas. É que o carro está vazando óleo para o motor. Mas pode esperar mais uns dias. De qualquer jeito o senhor vai ter que fazer o serviço, quer dia quer noite. – cuspiu de lado o mecânico passando a estopa no rosto.
Glauco ficou nervoso e indagou do mecânico onde faria esse negocio.
--- Na oficina da Ford. A não ser que o senhor tenha um mecânico. Mas na oficina é melhor -  disse João assoando o nariz com os dedos da mão.
--- Puta merda! É melhor eu vender esse e comprar outro carro! – fez ver por demais inquieto e assombrado o homem.
--- Isso é. Troca um velho e compra um carro novo. Um Dodge! – completou João a assuar o nariz.
Após essa troca de conversa Glauco pagou a despesa, deu mais uma gratificação ao frentista e pegou a estrada em direção à residência de sua noiva, Racilva Arantes onde podia descansar a cabeça das lamentações do mecânico ou frentista, ou seja, lá o que fosse. Ao chegar já às nove horas da manhã, ele buzinou e após isso desceu do carro para saber como estava passando a sua noiva após o desconforto do dia anterior. Dona Lindalva surgiu a porta e o mandou entrar dizendo ter Racilva uma tarde e noite tranquilas e nada mais a incomodava. O homem sorriu feliz e convidou a moça para ir até a fazenda. Racilva concordou e não demorou um minuto para se ajeitar, penteando os cabelos encaracolados. Seu Jonas, pai de Racilva passou com umas galinhas para fazer entrega e relatou a Glauco:
--- É luta! Dia e noite sem parar! – proferiu o homem e caminhou puxando por uma perna.
Glauco sorriu e logo em seguida relatou:
--- Deixe essa vida! Va dormir ou ouvir música! – disse a sorrir o homem Glauco.
E o homem nada respondeu saindo de porta a fora caminhando com as suas preciosas aves para entregar aos demais consumidores.
No caminho para a fazenda Glauco Rodrigues fez ver a Racilva o feito naquela manhã e disse ter o mecânico condenado o motor do seu carro. Ele estava a pensar em tal fato e, por certo, teria de ir a frente vendendo o Cadillac e poderia comprar um Dodge. Esse era um carro novo e Glauco não teria obrigação em refazer motor algum.
--- Ô Aero Wilys! – respondeu Racilva.
--- É. Aero Wilys. Você falou de um carro muito bom. – lembrou Glauco a sua noiva.
--- Santos e Companhia tem para vender. Eu vi o automóvel na exposição. – falou Racilva.
--- Podemos verificar esse veiculo. Esse aqui tem que fazer o motor. Sei lá. - relatou bastante entristecido o homem.
--- E está já bastante usado! – sorriu Racilva a olhar os bancos do automóvel.
--- E mijado! – sorriu Glauco lembrando a vez que Racilva teve que urinar no banco do carro.
A moça não comentou o assunto e olhou desviado para o seu noivo talvez querendo esganá-lo a todo custo. Com o passar das horas o carro já estava entrando no terreno da fazendo onde Glauco pode ver um vaqueiro Damião Lustosa a tanger o gado. Glauco não se conteve e chamou o homem por meio de um assobio:
--- Onde está o barbatão? – indagou Glauco ao vaqueiro.
--- Amarrado. Na fazenda! – respondeu o vaqueiro tocando a manada de gado.
--- Só tinha um? – perguntou aos gritos o homem dono do gado.
--- E três vacas. Uma amojada e outra de bezerro novo. – cuspiu fumo para um lado Damião.

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