quarta-feira, 31 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 36 -

- CARLOS GARDEL -
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Temeroso em prosseguir o seu trabalho de buscar mais informações sobre a vida passagem, o ancião resolveu parar naquele momento e pediu para a moça repousar um pouco e retornar a sua vida natural do momento. E Racilva retornou sem saber de nada mais. Ela apenas procurou entender o médium em dizer algo bem profundo de sua mente. A ponte hereditária havia sido interrompida naquela ocasião. O médium sabia ter em suas mãos um campo informacional  peculiar e um gen bastante complexo de uma moça capaz de retornar ao passado e dizer o seu retorno de modo bem complexo. Porém, não teria Racilva o poder de realizar toda essa aventura de uma só vez. Seria necessária nova terapia. Racilva teria um comportamento de duas ou mais gerações. Então Racilva aceitou o convite para ter mais sessões e frequentaria também a Federação onde poderia ouvira natureza dos fenômenos espiritas.
--- O espiritismo é além tudo um fato. Ele não foi criado para se entender apenas. O espiritismo já vem dos tempos primitivos, sendo tão antigo quanto à humanidade. Você nasceu aqui, mas já teve outras encarnações. E pode ter havido seu nascimento em países distantes em outras línguas. –explicou o médium Nequinho (Manoel Revoredo).
--- E em Natal? Como eu vim parar aqui? – indagou Racilva meio cética.
--- O espirito não vem por ele só. Ele vem de qualquer lugar em companhia de outros espíritos da mesma família. Daí então, você está no ambiente escolhido há muito tempo por você – explicou o médium.
--- E os Centros dizem isso mesmo? – indagou Racilva cheia de medo.
--- Plenamente dizem. Se você acompanhar a doutrina, verá todos os comportamentos do espírito. Você pode ter vindo dos gregos, dos romanos e de tantas outras civilizações bem mais antigas. – completou a explicação o médium.
Então, os visitantes concluíram sua permanência na casa do médium Manoel Revoredo e deixaram com uma prece feita por todos juntos e depois partiram para os seus locais.
Na quinta-feira, logo cedo, de nove horas da manhã, Walquiria Rodrigues, filha de Valdomiro Rodrigues Timbó, estava sendo entrevistada por uma funcionária do Gabinete do Prefeito da Cidade do Natal para exercer uma função de datilógrafa, caso muito simples para a moça. Contudo aquele era o seu primeiro emprego formal apesar de ter sido lente em escolas por tempo rápido e vencimentos curtos. Na Prefeitura, apesar de ter um vencimento muito aquém de suas necessidades, mesmo assim para Walquiria Rodrigues era um trabalho de meio expediente, algo normal para o seu malfadado ego. E Walquiria estava atenta as questões sendo entrevistada como se fosse uma aluna. Foi então, não se sabe de onde, surgiu um rapaz bem apanhado, trajado roupas elegantes a aparecer no setor de entrevista, senão por acaso. A moça estava entretida com as perguntas e nem olhou para o rapaz. E o rapaz também nem olhou para ela se não fosse um alerta de ali esta sendo entrevistada mais uma novata. Então, o rapaz se aproximou da mesa de entrevista e reconheceu a moça ao dizer:
--- Walquiria que estas a fazer aqui? – relatou o rapaz com bastante alegria e entusiasmo.
A moça se voltou para ver quem chamava daquele jeito e com surpresa declarou:
--- Calos? Carlos Gardel? Ora mais! Quem advinha! – e gargalhou no final a moça.
O rapaz também gargalhou. Ele era mesmo Carlos Gardel Pimenta, nome posto por seu pai. Quando se casou o pai do rapaz pôs nome no menino Carlos Gardel por ser no tempo passado aquele um cantor de extremo entusiasmo para todos os ouvintes da época. Podia ser qualquer nome. Mas o homem preferiu por mesmo Carlos Gardel um cantor de fama internacional e dono de uma voz soberba e um repertório magnifico com seu orgulho maior no seu tempo:
--- “O nome dele é Carlos Gardel o maior cantor do mundo”. – dizia o pai do rapaz quando o menino foi batizado na Igreja Católica.
E todos concordaram apesar de haver alguém a perguntar:
--- Quem é esse Carlos? – perguntou uma mulher em surdina a outra.
--- Sei lá! Só Deus sabe! – respondeu a outra.
E a conversa entre Carlos Gardel Pimenta e Walquiria Rodrigues continuou sempre com pleno entusiasmo. Carlos perguntou o que estava Walquiria a fazer ali tão cedo. E ela respondeu sem querer ferir ninguém:
--- Uma entrevista para ser datilógrafa. – e sorriu ao acabar de expor sua ambição.
--- Datilógrafa? Você? Não acredito! – disse Carlos com surpresa.
--- Pois é querido. Quem não tem cão caça com queijo. O gato vem depois. – com uma cara cínica de fazer dó.
Carlos sorriu com o exemplo e logo tomou a frente da entrevistadora e fez questão de levar a moça para outro setor do Município.
--- Não! Aqui não! Você vai ser contratada como qualquer outra funcionaria. Mas não como datilógrafa. Vamos subir. Lá em cima eu resolvo seu caso. Vamos. Chega! –fez questão o rapaz.
A moça Walquiria ficou um tanto estranha com o chamado de Carlos. Mas, por fim obedeceu ao seu convite. E pedindo licença à entrevistadora seguiu com o homem até o lugar de cima onde estavam outras funcionárias atentas ao serviço. Ao chegar ao local ele entrou com Walquiria no Gabinete do Prefeito, homem mais austero da capital. E logo foi dizendo:
--- Prefeito! Esta é a sua nova secretária. Contrate-a! – relatou com altivez o rapaz Carlos.
O Prefeito da Cidade, de boca aberta, ainda a conversar com um amigo e auxiliar não contou mais conversa. Aparentemente sorrindo, o homem indagou o nome da jovem e ela relatou ser Walquiria Rodrigues. Então o prefeito declarou:
--- Hum!. Nome soberbo. Richard Wagner! As Cavalgadas das Walquírias! Encantado senhora! – e o prefeito beijou a mão de Walquiria.
--- Obrigada senhor. Meu nome foi escolhido por meu avô. O coronel Fabriciano. – sorriu Walquiria ilustrando o sentido do nome.
--- Na verdade o Coronel deve ter assistido à peça que imortalizou o seu nome: uma gigantesca ópera. – relatou o Prefeito a ilustrar o seu conhecimento sobre Wagner.
--- Com certeza. Eu ouvi A Cavalgada das Walquirias em disco, na Universidade. – sorriu a moça procurando se mostrar um pouco atenta.
--- Muito bem! A Cavalgada das Walquirias. Tal fato me lembra dos tempos remotos. Bem. A questão do seu contrato. Está feito. Você é a nova funcionaria da Prefeitura. E para bem dizer a senhora fica aqui em meu Gabinete. Qual o Curso a senhora se formou na Universidade? – perguntou o Prefeito querendo se por a par da real situação da nova funcionária.
--- História, Excelência! Eu fiz História! – sorriu a moça ao falar.
--- História? Mas a senhora fez História? Como pode uma coisa dessas! – reclamou o Prefeito aos seus funcionários.
--- É. Mas não tem vaga! Nem aqui nem no Estado ou na Federal! É isso! E eu estava a prestar depoimento para ser datilografa. Foi quando o senhor Carlos apareceu. Devo tudo a ele de me trazer até a presença de Vossa Excelência! – falou seria a moça.
--- Mas a senhora é formada em História? – perguntou novamente alarmado o Prefeito.
--- Sou. E tenho de continuar os estudos em breve. – sorriu Walquiria se dirigindo ao Prefeito.
--- Espere um instante. Vou consultar a Secretaria de Educação. Na verdade a senhora terá de ir para um Colégio onde ocupe a direção do estabelecimento. Espere! – disse o Prefeito com seu meio de falar e dispensar o susto levado.
E Walquiria esperou alguns minutos até estar com a certeza de ir para a direção de um Colégio a fazer as obrigações de uma Diretora. Com isso, tudo ficou acertado em fim. Ela agradeceu por demais a Carlos Gardel e declarou ter sido ele o mentor de sua contratação. O rapaz nada falou e apenas sorriu. Na saída do Palácio Walquiria se voltou e disse a Gardel:
--- Espere! Isso não acaba assim! Vamos brindar esse momento! – sorriu Walquiria e de modo agradeceu enquanto se dirigia a Secretaria de Educação do Município.
Carlos Gardel apenas sorriu e deu com a mão ao dizer:
--- Bons negócios para você querida amiga! – fez ver o rapaz.
A manhã estava quente com um calor abrasador. O povo vindo e indo para os seus negócios nem. No seu veículo, Walquiria Rodrigues seguia saltitante com vontade de chorar e de sorrir a um só tempo. Ela, por ter sido aceita diretora de um colégio municipal. Para a moça esse era o começo de uma grande aventura. Na avenida, uma anciã seguia a passos lentos com uma touca na cabeça e um vestido escuro cobrindo até os pés. A anciã não pedia esmolas a ninguém. O povo se admirava do jeito corcunda da velha tão pensa quase fazendo um “C”. Apesar da idade a anciã não usava óculos. Uma bengala de madeira tosca lhe servia de amparo.
--- E a campanha? – indagou Walquiria falando consigo.

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