quinta-feira, 1 de setembro de 2011

VENUS ESCARLATE - 37 -

- ACASO -
- 37 -
Na mesma quinta-feira pela manhã, Racilva Arantes recebeu em seu escritório no Gabinete do doutor Glauco Rodrigues a visita da sua amiga Zilene Caldas. Foi por pura cortesia, afinal Glauco não estava no seu gabinete naquele instante. E dessa forma, as duas amigas puderam conversar a vontade falado sempre do médium Manoel Revoredo, o Nequinho, ancião dos seus oitenta anos, mais ou menos. O ancião marcou a sessão de quinta feira na Federação ficando Racilva de voltar a sua casa na sexta feira, pela tarde. Racilva estava animada com o resultado da primeira experiência feita. E perguntou a Zilene como tinha se saído quando estava sob o efeito de hipnose ou dormindo como era mais frequente ser dito. E Zilene, com temor declarou alguns episódios do passado. E então, Racilva sorriu.
--- Será que vou ser como antes? – indagou Racilva alegre.
--- Isso eu não creio. Nossa vida tem locais altos e baixos. Você chegou a dizer que o homem colhia frutas. Mas não disse onde estava. Podia ser em qualquer parte do mundo. – destacou Zilene sorrindo.
--- Mas isso é incrível. Eu não me lembro de nada. – decifrou Racilva atrapalhada ainda.
--- Por isso o médium achou melhor progredir nas sessões. Sexta feira ele poderá ter uma mais ampla visão de você. – destacou Zilene de forma séria.
E a conversa progrediu nesse mesmo compasso e por fim Zilene destacou ter mais tarde de ir com Racilva a sessão da Federação. Isso porque o ambiente era bem melhor e Racilva podia ver e ouvir outros depoimentos de médiuns, os mais sábios da cidade. Enquanto as duas amigas conversavam de mediunidade e coisas mais, o noive de Racilva caminhou de volta ao seu gabinete. Ao entrar na sala Glauco cumprimentou a amiga de Racilva. E essa fez o mesmo. A noiva foi quem chamou a atenção do seu noivo de que Zilene esteve a dizer ser a sua intenção em ir à Federação na sessão daquela noite.
--- Pode amor? – indagou Racilva muito alegre.
--- Claro. Eu a apanho logo mais na frente do Teatro. – respondeu Glauco de olhar desconfiado.
Zilene sorriu satisfeita com o acerto feito de ir logo à noite à sessão espírita. E adiante trocou breves palavras com a amiga adiantando ter logo mais assuntos bem fortes para as duas moças poderem trocar, pois afinal era a primeira vez de Racilva a uma reunião espirita de verdade.
--- Cuide-se. – recomentou Zilene a sorrir.
--- Não tenhas dúvidas! – disse em troca Racilva tomando a amiga pelo braço para conduzi-la até a porta da Repartição.
Ao passar diante da mesa de trabalho de Glauco Rodrigues a jovem Zilene trocou um olhar furtivo para com ele e ainda disse muito baixo:
--- Cobra! – e sorriu de vagar.
O homem ficou sem entender o que Zilene queria dizer e respondeu:
--- Até logo. – respondeu Glauco com um olhar inquieto.
Enquanto isso, ainda pela madrugada, antes do sol nascer de verdade, o grupo de três capangas entro na fazenda do criador Joao Duarte. E se fazendo de vaqueiros arredios foi procurar abrigo em determinado local mais distante de outros vaqueiros e capangas. Manoel do Saco era o chefe do grupo e deu ordens para os dois jagunços se afastarem e cruzarem o sítio de formas a que os três ficassem resguardados a espera do homem João Duarte. Antes do ocorrido Neco do Saco se certificou da presença no local de Joao Duarte ao indagar de um jagunço por onde andava o “patrão”. Por isso, ele não desperto maior atenção.
--- O “patrão” está na casa grande? – indagou Neco do Saco a um jagunço.
--- Por certo. Quem pergunta? – fez ver o jagunço.
--- Manoel. Trago uma parte da boiada para ele. Todos são gados sem ferro. – respondeu Neco
--- É, Então o senhor espere na fazenda! – disse de vez o capanga.
E assim foi o caminhar do homem. Já solto de canga e corda ele fez então a distribuição dos seus jagunços por determinadas partes da Fazenda “De Cardo” como era conhecida à fazenda de João Duarte. E assim se fez o dia. Quando o sol já despontava no horizonte, Neco do Saco viu muito bem a presença de João Duarte a sair de casa para inspecionar o seu gado. E foi em cima do ato que o capanga do coronel Fabriciano pegou de vez o se desafeto e pôs em sua cabeça a arma de fogo com a recomendação:
--- Nem grite e nem fale! O casarão está cercado pela tropa de jagunços! – disse baixo com a arma apontada para a cabeça de Joao Duarte o jagunço Neco do Saco.
O homem, sem poder olhar para trás, obedeceu a ordem. E pela ordem dada, seguiu direto em marcha pelo campo. Um jagunço do seu lado se posicionou em ordem de tiro. Ele disse então:
--- Não atire! Não atire! Não atire! Diga a todos! Não atirem!!! – reclamou assustado João Duarte.
--- Muito bem. Vamos em frente! Se alguém atirar, você é homem morto também! – rezou Neco do Saco falando baixo ao seu rival.
--- Quem é você? – perguntou JD enquanto caminhava atordoado pelo atendado em sua casa.
--- Um capanga, meu mestre! Um capanga! E não fale mais se não você morre! – respondeu Neco do Saco a caminhar com o rendido fazendeiro.
--- Tá bem! Tá bem! Não pergunto! Mas é dinheiro que você quer? – indagou JD ao capanga.
Um soco de um Winchester fez o homem se calar. Pelo visto o capanga não estava atrás de algum níquel. Talvez fosse vingança. Talvez. E o homem JD continuou a caminhar até chegar a uma montaria. No cavalo o homem subiu diante da ameaça de um Winchester. Os outros dois cangaceiros fizeram o cerco em torno do prisioneiro para ter certeza de não haver ninguém a apontar uma arma para eles. E devagar, enquanto um jagunço fez um tiro para atingir algum algoz, o jagunço da turma de Neco do Saco abriu fogo contra o elemento atingindo de cheio apesar da distancia entre os dois. O cavalo de JD estrebuchou assustado e Neco do Saco foi ao ferro:
--- Não te disse cabra frouxo. Tu morres se parecer outro! – reclamou Neco com raiva da bala.
--- Não atirem! Não atirem! Por favor! Não atirem! – gritava JD aos seus capangas.
E foi assim que depois de algum tempo os cavalos marcharam em disparada, seguindo uma trilha e outra, subindo mato e descendo montanhas, atravessando lagos e vadeando rios rasos até chegarem ao um recanto desprovido de quase tudo. Foi quando Neco do Saco ordenou:
--- Descanse cabra! Vamos ver se tu és macho mesmo! Corno safado! Matador de mulher e homem! Desça! – disse bravo o jagunço ao homem já sentindo estar liquidado.
E o homem JD se apeou  do cavalo. Em seguida, Neco amarrou as mãos do patrão dos jagunços adversários e amarrou ao rabo do seu cavalo. Neco chicoteou o animal sob a alegria dos dois outros jagunços seus amigos até uma distancia boa. JD não se aguentava mais de tanta inominável desventura e pediu ao bandoleiro que lhe matasse, pois estava todo quebrado. Sem negar pedido. Neco do Saco desferiu um golpe com um facão na cabeça do coitado. Ele teve morte instantânea. Em seguida, o bandoleiro arrancou uma trunfa de cabelo da cabeça de JD e uma orelha para mostrar ao coronel Fabriciano o seu feito. Depois de tudo isso, amarrou o homem rico do sertão em cima do cavalo dele e acoitou o animal acreditando ser esse capaz de acertar com a volta.
--- Vamos embora! Trato feito! – discursou Neco do Saco aos seus jagunços.
Então, a turma sacudiu o chapéu para cima sob os gritos de terem alcançado o feito.
Já passava das duas horas da tarde quando o roceiro Manoel Nazareno, o Neco do Saco, chegou com seus dois companheiros à Fazenda “Sossego” a procura do Coronel Fabriciano, o velho, com a sua mochila a terá-colo com as duas partes do corpo do fazendeiro João Duarte comprovando o seu trucidamento. Os jagunços ficaram de fora. Somente o Neco do Saco teve a permissão de entrar e falar com o coronel. E ele fez a entrega:
--- Pronto coronel! A prova! – declarou Manoel Nazareno cuspindo de lado a gosma do fumo.
--- Muito bom! Cachaça pra todos! – gritou o coronel de modo sempre alegre.
O sol já terminava o seu percurso da tarde e a jagunçada continuava a beber sem parar a cachaça oferecida pelo coronel e saudavam os três amigos do cangaço gritando para o alto. O velho Coronel era só alegria.

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