segunda-feira, 5 de setembro de 2011

VENUS ESCARLATE - 41 -

- ARMADO -
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Na sexta-feira à tarde, um jagunço de um determinado lugar foi até o casarão da Fazenda “Sossego” onde estava o coronel Fabriciano com o intuito de matar o homem. O jagunço vinha da cidade de Serra Grande onde se traçava o destino de todos os fazendeiros e coronéis bem como de outra gente quando se queria dar cabo. Dessa vez foi o coronel Fabriciano por causa da morte de João Duarte, homem que mandou matar a mulher Corina, amante do coronel Ahrtur e do seu filho – de Corina – Fortunato. Essa era uma contenda de duração bem antiga entre o Coronel Ahrtur e o fazendeiro João Duarte, o qual tombou morto pela ação de outro jagunço, Manoel Nazareno, o Neco do Saco a mando do Coronel Fabriciano. Ainda era tarde cedo quando o jagunço se fez a espreita do Coronel. Armado até os dentes, o jagunço cujo nome era Januário do Cipó tornou a olhar o movimento do casarão; os outros jagunços e de arma em punho, um rifle de grosso calibre fez fogo contra o Coronel com mira certeira de acertar no peito do velho. Naquele instante, o coronel se moveu para apanha uma brasa no chão e a bala passou raspando o seu alvo se alojando na parede onde estava o velho homem de oitenta anos.
--- Diacho! – disse baixo o jagunço Januário o Cipó procurando armar a sua carabina.
Nesse igual momento, o velho coronel Fabriciano percebeu o tiro e rumou para dentro da casa grande enquanto outros jagunços a serviço do coronel correram para defender a vida do seu patrão. Juliano do Monte foi o primeiro a chegar. Ele fez mira e atirou em cima do peito do jagunço Januário do Cipó. Esse caiu para trás e de repente o coronel Fabriciano apareceu no umbral da porta gritando:
--- Não atirem! Não atirem! Deixa eu ver quem esse capanga e quem mandou ele me matar!!! Não atirem!!! Não atirem!!! – gritava o coronel para um grupo de celerados e prontos para fazer fogo contra o jagunço Januário do Cipó.
A cambada ficou em perfeita ordem a espera de novas instruções do senhor e dono o Coronel Fabriciano, homem corajoso da região de Serra Grande. Juliano do Monte era o mais aguerrido jagunço em pé sobre o cangaceiro derrubado por bala. Do Monte estava ali, esperando apenas a ordem do Coronel Fabriciano para atirar para matar o seu rival Januário do Cipó em uma ação sem dó nem piedade. Ele cuspia como onça na caatinga a espreita de sua caça. E sempre dizia com raiva.
--- Fala logo quem te mandou! Fala ou atiro! – rosnava Do Monte cuspindo raiva.
O bugre apenas gemia de dor. A bala transfixou o seu ombro. Foi um tiro mal dado aquele. Mesmo assim, Do Monte estava por cima de Januário do Cipó naquele momento. Ao seu redor estavam outros brutamontes prontos para fazer fogo ao menor sinal do Coronel. Contudo, o homem forte de Serra Grande já estava por cima do celerado a perguntar quem lhe mandara fazer aquele serviço.
--- Fala senão eu te mato corno! – gritava o coronel Fabriciano a todo custo ao bandoleiro.
O bugre não falava porque era seu calibre: falar e morrer. Apenas ele gemia de dor. Dor atroz nunca sentida. Mesmo o coronel deu ordens aos capangas.
--- Tira a roupa desse traste! Pendura ele na vara! – respondeu o coronel embravecido.
A vara era uma espécie de tronco onde os assassinos contumazes eram pendurados até a morte quando tinham de morrer. Juliano do Cipó sabia disso com certeza. E ele apenas gemia a dizer:
--- Piedade senhor Coronel! Piedade! Deixa eu morrer em paz. (tosse). Deixa em morrer em paz. (tosse). Eu não sei quem foi o homem que mandou fazer o serviço. (tosse). Sei não seu coronel. (tosse). – lamentava o bugre.
--- Tu vai falar e é agora! Diga o nome cabra frouxo! – reclamou o coronel com muita ira.
--- Eu não sei seu coronel. Sei não. – tosse – Ele é um homem forte, cheio de riqueza. Apenas me favoreceu... (tosse)...E disse que o resto eu...(tosse) ...recebesse um o Louro, no mercado da cidade. – (tosse, tosse). – e caiu ao desalento o cambaio.
--- Tira a macheza dele! E faz fogo depois! Você, Do Monte venha cá! – respondeu com bastante fúria o coronel ao capanga desalmado.
Só se ouviu o tiroteio comer na rajada da caatinga e o homem nem sequer gemer. Doze tiros quase sempre um em cima do outro. E o homem do campo ordenou ao capanga ir até o Mercado resolver a encrenca com Louro. Em seguida com mais três comparsas irem à fazenda do homem morto, o rancheiro João Duarte e por lá fazer a vendeta contra o filho João Junior, o homem que encomendou a chacina e, por sinal, o primeiro filho de JD. A cambada se fez a pronto e rumou para o mercado da cidade. Ali, eles encontraram o homem chamado Louro. E sem que em mais: os bugres abriram fogo contra o facínora, matador por encomenda dos homens de qualquer lado. Foi uma saraivada de balas tendo o homem caído por terra. Uma ação rápida aquela, pois não deu tempo a Louro desembainhar a pistola. E dali os jagunços rumaram para a fazenda do “Cardo” onde montaram tocaia.  Toda a fazenda estava coberta por capangas. Eram homens de lado e de outro. Do Monte teve de esperar o anoitecer para ninguém ver a sua empreitada.
E veio a noite. Do Monte mascando fumo esperou um tempo. Quando nem havia lua no sertão ele achou por bem começar a perseguição aos capangas do fazendeiro João Junior conhecido mais por seu Junior. E deu a ordem aos demais seguidores contumazes para rasgar a garganta dos jagunceiros, um por um até o ultimo. Dali então era a sua vez. Matar matado o fazendeiro Junior mandante da quase morte do coronel Fabriciano na tarde daquele dia. O casarão estava escuro como se nada tivesse no local. Nem filhas, irmãos e mulher de João Duarte, o morto. Devagar como se estivesse sem pressa, e a depressa era por demais imperfeitas, Do Monte e os três facínoras entraram de mansinho no casarão. Todos estavam a dormir. O senhor Junior, esse tinha um sono pregado. Do Monte chegou perto do algoz e decepou sua cabeça. Em seguida, os jagunços saíram da fazenda sem o menor barulho. Quando a mulher de Junior acordou viu apenas o sangue a escorrer pelo a coberta.
Na manhã do sábado a Fazenda Maxixe estava coberta de capangas. A ordem! Não entra nem sai ninguém do terreno. Até mesmo a ordem foi severamente mandada para as outras fazendas dos ostentosos coronéis Fabriciano, Ahrtur e Valdomiro Timbó. Fazendas Tijuaçú, Alarme, Sossego e Pirilampo. Havia um clima de guerra em todo o campo.
Naquele sábado foi sufoco para entrar no sitio Maxixe para os visitantes Glauco Rodrigues, sua noiva Racilva Arantes e a sobrinha de Glauco, a senhorita Walquiria Timbó, filha de Valdomiro. Os jagunços, armados até os dentes não quiseram reconhecer o carro do doutor Glauco e foi preciso vir até a porteira do sítio o capitão do mato para então permitir a entrada de Glauco e suas convidadas. O capitão do mato era feitor Getúlio Boa Boca, homem forte e destemido capaz de qualquer coisa para proteger os seus patrões da vida e na morte. Quando Boa Boca autorizou a entrada de Glauco, a moça Walquiria quis descer do carro para mostrar quem era ela. Contudo, nesse momento o doutor Glauco Rodrigues Timbó foi dizendo:
--- Tenha calma! Tenha calma! Não se sabe o que está havendo! Vamos para o casarão! – refletiu com muita frieza o doutor Glauco.
--- Calma uma merda!!! – gritou a moça ao desespero.
--- Calma! Calma! Deixe de alarme! – declarou o seu tio.
Então o carro rumou para a casa grande acompanhado por diversos jagunços tendo a frente o feitor e caçador de fugitivos, o homem Getúlio Boa Boca. E automóvel apenas estacionou na frente do casarão aonde a mãe de Glauco veio receber o filho de braços abertos tendo em recíproca a ação feita pelas duas moças: Racilva e Walquiria. Depois de desfazer os maus entendidos e as desculpas apresentada pelo feitor Boa Boca tudo voltou ao normal. O velho coronel Fabriciano já estava no casarão ao lado dos filhos Ahrtur e Valdomiro. Após longas conversas o Coronel alertou ao filho Glauco a solicitar uma força policial para a sua fazenda, pois não havia clima de segurança alguma. O homem concordou com tudo o que ouviu e disse ter de informar ao comandante da Força Policial do Estado e ao próprio Governador da intranquilidade vivida pelos moradores das fazendas próximas de do povo de Serra Grande.
Após esses impasses começou-se a conversar sobre amenidades. Walquiria era toda prosa ao relatar ser naquela hora a nova Diretora de um Colégio Municipal na capital do Estado.
--- O convite foi feito pelo próprio Prefeito. Ora vejam só. – sorriu Walquiria d forma singular.
--- Imagine uma neta do coronel sendo recebida pelo prefeito da capital! – relatou Nair, mãe de Glauco.
--- Pra mim. Isso é uma bosta! Ele devia ter contratado você logo no inicio do seu Governo. – adiantou o coronel Fabriciano ao bafora o seu cachimbo.
--- Mas, meu avo! Eu não estava nem procurando um emprego maior assim. Eu estava a fazer um teste para datilógrafa. Foi então que Carlos me levou até o prefeito! – sorriu alegre e com muito entusiasmo a moça.
--- É uma bosta! Não por você! Mas pela ação atrasada do Prefeito. Uma bosta! Pura bosta! – declarou o velho camponês.
E a vida continuou por horas a fio quando todos entraram para a mesa e foram recebidos pelas domésticas do casarão. Era a vez de todos irem almoçar. O dia claro era sinal de verão em toda a região da fazenda.

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