terça-feira, 13 de setembro de 2011

VENUS ESCARLATE - 49 -

- GADO DO MATO -
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Na quarta feira chegou à notícia a Natal. E Glauco Rodrigues ficou preocupado com a doença da vaca louca. Ele, lendo os jornais do sul do País, tomou conhecimento desse mau onde à vaca a doença atacando o gado de Inglaterra, Irlanda, Bélgica, Holanda, França, Espanha, Alemanha, Dinamarca e Portugal. Porém nada falava do surto no Brasil. Essa doença é muito pouco conhecida e pelo que Glauco soube, afetou o gado das Ilhas Britânicas.  Pelo que Glauco soube a doença é neurológica, atacando o sistema nervoso do animal. Com o seu cérebro atacado, o animal vai perdendo a condição motora como a vaca, o boi, o touro e até mesmo os animais ovinos. Tais animais se esfregam em cercas e paredes perdendo todo o seu couro ficando em carne viva. Dai vem à morte. A vaca louca perde toda sua condição motora.
--- Isso é preocupante esse caso da vaca louca. Eu tenho gado. Grande parte foi vendida. Meus irmãos também venderam. Mas ainda tem gado para ser entregue. E com essa enfermidade só pode ser feito o confinamento do gado. É separar mesmo o gado enfermo dos com saúde. O preocupante é saber que o mau leva o gado até cinco anos para poder se manifestar. – relatou com muita preocupação o homem a sua noiva.
--- E o Governo não faz nada? – indagou Racilva com temor.
--- Fazer o que? Ninguém pode fazer nada. A moléstia se manifesta de forma surpreendente. Nada se pode fazer de momento. O meu gado veio da região centro-oeste. É saber se criadores daquela região também estão sofrendo com a doença. – replicou Glauco.
--- E você o que vai fazer? – perguntou Racilva não entendo nada de vacas, touros e bodes.
--- Rezar apenas! Rezar! – declarou Glauco muito preocupado.
--- Isso não adianta em nada. Tem que ser feita alguma coisa! – declarou alarmada a noiva.
--- Eu vou telegrafar para outras regiões e saber como está a situação por aquelas bandas. – destacou um tanto amofinado o homem.
---Logo no tempo de nosso casamento! – declarou amofinada a moça com a notícia da vaca louca no sertão.
Após ter feito mensagens para os fornecedores de gado da região centro-sul, Glauco se movimentou para saber de quantos casos foram registrados na região de Serra Grande, município onde se detectou esses novos fatos da enfermidade. Nesse episódio não se podia ter uma previsão de quantos animais seriam sacrificados nesse e em outros municípios do Estado onde por ventura a doença já estava em plena expansão. E desse modo, Glauco viajou para Serra Grande na manha da quinta feira a procura de saber melhor as informações.
--- Tem carne? – perguntava-se nos açougues.
--- Só de frango. – respondia o açougueiro acabrunhado.
--- Só frango? Nem de bode? – dizia o comprador totalmente preocupado.
--- Tem peixe. Alí, ó! – apontava o açougueiro para as outras bancas do mercado.
--- E quem está comendo o boi? – se ajeita a seu modo o consumidor.
--- Você não viu os jornais? – respondia o açougueiro de forma rude e impiedosa.
--- É porque vocês não querem vender. Quando acabar, aumenta de preço. Ai tudo está bem. Fique com seus frangos. Eu vou procurar em outra banca! – contestava o comprador cheio de raiva.
Por seu turno, o fazendeiro Valdomiro Timbó, pai de Walquiria Rodrigues, estava em pandarecos. Ele ainda não sabia de quantas reses estavam com a moléstia e de manhã logo cedo saía a procurar outras partes do rebanho fugidio para sacrificar ou mesmo colocar em quarentena como o veterinário Joaquim Fragoso mandara. O seu irmão, Ahrtur Rodrigues fazia o trabalho de inspecionar as outras fazendas do Tijuaçú, Alarme e Pirilampo a procura de reses doentes ou sadias. Ele estava muito preocupado com as reses, pois no campo havia o trabalho de engorda do gado para em seguida vender para outros pontos de comércio do Estado ou de outros Estados regionais. E o Coronel Ahrtur Timbó, pai de Glauco Rodrigues andava de campo adentro amealhando o gado sadio. Na Fazenda “Maxixe” ainda não aparecera casos de vacas doentes, o que era uma alegria para o criador. Contudo, o Coronel Ahrtur soubera de casos de vacas locas na fazenda vizinha, pertencente ao seu algoz, João Duarte, já falecido pela força do jagunço Manoel do Saco, o Neco como era conhecido. Era a propagação do agente infeccioso causador da contaminação da doença. E o Coronel Ahrtur teve a preocupação de saber se o agente infeccioso causador da moléstia estaria ocorrendo em iguais municípios da região. Com a chegada do seu filho, na quinta feira, o Coronel Ahrtur se debruçou na mesa fazendo um mapa dos municípios afetados enquanto o filho, Glauco Rodrigues começava a fazer um desenho de ampla região nordestina para poder colher maiores informações sobre a toxina infecciosa.
--- O negócio é vender todo o gado! – falou austero o Coronel Ahrtur.
--- E quem vai comprar essas vacas? – perguntou inquieto de forma lastimosa o seu filho.
--- Tem quem compre. Os açougueiros de beira de estrada. Esses compram! – relatou o Coronel com certa elegância e pouse.
--- Compra nada meu pai. Onde tem vaca não se compra nem o pé do boi. – relatou relutante o filho Glauco.
--- Quer dizer que eu vou perder o meu gado? – perguntou de forma atrevida o fazendeiro.
--- Bem. Eu percebo que alguma vacina deve estar sendo testada no gado, pois a Europa toda está com esse mau. – relatou o filho Glauco ao Coronel Ahrtur.
--- O negócio é vender a vaca. – relatou o Coronel agitado de raiva.
--- Eu ainda espero uma decisão governamental. O senhor tem que observar: no Congresso não só tem pano de bunda. Os maiores criadores do País estão dentro do Governo. É esperar para se ver. – declarou enfático o filho do coronel.
Do ponto em que Walquiria Rodrigues esteve a conversar com Carlos Gardel, na manhã de segunda feira ficou acertado ter ele a incumbência de orientar a professora de História para quando chegassem às eleições estaduais. Walquiria Rodrigues ainda teria de ser submetida a uma inquisição partidária para se observar se ela era boa de votação no seu Estado. Essa era a primeira vez de Walquiria a ser posta em desafio entre vários outros candidatos do seu partido e para a bancada não valia a pena se sacrificar de forma rude outro nome em prol de um candidato desconhecido das urnas e do eleitor. Ao que parecia havia outros pré-candidatos mais conscienciosos em cabos eleitorais.  Nesse caso, Carlos Gardel seria um cabo eleitoral de Walquiria até o momento em que o seu nome fosse votado para ser lançado pré-candidato às eleições do ano vindouro.
--- Eu coordeno a sua campanha! Notadamente você tem um excelente partido e agora é  só esperar para que os dirigentes aprovem o seu nome. – sorriu Carlos Gardel ao responder a jovem moça Walquiria.
--- É de lascar! Ainda tem isso? Não basta o meu prestígio como filha de um fazendeiro? – indagou Walquiria temerosa com esses dirigentes.
--- Veja bem. Tem candidatos muito fortes. E tem uns mais fracos. Isso tem. Quanto a você eu acredito ser uma candidata bem forte. Isso dado ao seu passado sem mácula. – respondeu Carlos.
--- Eu sei. Eu sei. Não tenho mácula! Mas vale a pena pesquisar por outros partidos menores onde a pessoa seja apenas uma pessoa. Eu vou estudar esse assunto. – relatou a moça meio acanhada com a derrota inicial.
--- Não se aflija. DÊ tempo ao tempo! – comentou Carlos a sorrir.
--- Está bom. Vamos dar tempo a esse tempo! – concluiu Walquiria ao se despedir do rapaz.
E assim a moça Walquiria Rodrigues pode perceber que de entrada nada havia de bom. E era bem melhor se procurar a filiação em um partido pequeno, inexpressivo, de poucas andanças.  Onde seu nome pesava como um estandarte. E foi assim que Walquiria iniciou a sua campanha levando o seu nome a filiação de um pequeno partido sem alguma expressão. Ela poderia competir com mais dois candidatos às eleições em sua bancada. Foi assim que Walquiria pensou no dia da reunião com Carlos Gardel. Ao seu modo, a moça saiu decepcionada com a entrevista dada ao rapaz.
--- Isso é uma bosta! Que dirigente que nada! Tudo não passa de uma molecagem! Filho de uma puta! – rosnou decepcionada Walquiria com a permissão de ser uma pré-candidata ao pleito.
Nesse dia a moça não teve nem coragem de ser uma diretora de uma escola municipal da cidade onde morava a algum tempo. A moça ficou decepcionada com aridez da qual enfrentou sem ao menos supor ser o inicio de uma forte desilusão de pré-candidata a um cargo eletivo. E pensou sozinha.
--- É melhor colher merda no mato! – pensou a moça ao desengano da vida.

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