quinta-feira, 15 de setembro de 2011

VENUS ESCARLATE - 51 -

- JAPÃO -
- 51 -
Na segunda-feira Racilva Arantes estava de volta a Natal após ficar o sábado e o domingo na Fazenda Maxixe, município de Serra Grande, onde foi relatar os acontecimentos com o mau da vaca louca a seu noivo, Glauco Rodrigues uma vez ter o Governador do Estado o procurado com urgência para tratar, provavelmente do assunto. O Governador sabia muito bem da criação de gado por parte de Glauco, dos seus irmãos e do velho Coronel Timbó já falecido. Antes de cuidar dos afazeres da repartição da Recebedoria de Rendas, Racilva procurou ir até a Agência Pernambucana para ver sobre novas publicações da moda. E quando estava Racilva a ver e rever as novas e antigas publicações eis que lhe caiu as mãos uma revista não muito divulgada no Estado. O brasileiro ainda tinha um rancor e aversão do povo japonês por conta da II Guerra Mundial terminada em 1945 quando houve a assinatura de paz entre o Japão e as Nações participantes do conflito mundial. No entanto a revista mostrava um novo Japão bem diferente daquele destroçado por bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki naqueles anos de terror atroz. E Racilva olhou a publicação e deixou de lado por saber não querer nada com aquela gente. Contudo, passado alguns minutos algo lhe chamou a atenção de repente:
--- Que bela casa no alto! – clamou a moça ao divisar a imagem no alto de um morro.
E era uma casa realmente majestosa de uma mostra fotográfica sobre o país de ontem e hoje com o relato dos contrastes feitos pela história do passado e do presente. As fotos não tinham propagandas políticas. Eram apenas fotos de um País dos anos 30 (1930) quanto não havia reboliço de guerra por parte do Governo. A mostra trazia apenas figuras belas de Tóquio, Quioto, Nara, Nikko e Oshima províncias vividas durante essa época. Nessa época, antes das viagens por avião, coisa rara nesse tempo, a ilha japonesa vivia isolada do resto do mundo como sempre viveu em séculos passados. E as fotos mostravam um mundo pouco conhecido da vida japonesa. A exposição de fotos trazia lugares de ruas miseráveis. Era um tempo de marginalização de um Japão feudal. Quimonos tornavam a parte mais exótica das mulheres nipônicas a andar de sapatos estreitos fazendo do seu pé uma anomalia. Entre ruas e palácios as fotos mostravam o ter de havido melhor naquele local perdido do mundo. Em época desde 1610 o Japão tinha os seus palácios modernos como despontava na mostra fotográfica. O Palácio Imperial de Tóquio era por vezes uma parada obrigatória para se olhar. Naquele Palácio morava o Imperador do Japão. A mostra apresentava a construção de 1868 de outro Palácio, o de Meiji onde havia Três Santuários. Alí existia os Jardins Orientais bem pouco visitados pelos próprios originários nipônicos. Em vista de tudo isso surpreendente, a moça Racilva Arantes preferiu ficar com o exemplar da revista. Após quitar a conta no caixa ela saiu leve e fagueira saltitante de alegria.
--- Japão! É o meu destino! – relatou bem baixo Racilva a sorrir.
Diante de tais eventos singulares, Racilva procurou ler principalmente sobre a cultura de um povo tão antigo como a própria pedra. E certa hora daquele dia, logo após o almoço em companhia de Glauco, a moça preferiu dizer estar incumbida de ver uma história mais antiga que a própria arte. E pediu a Glauco Rodrigues que a deixasse na Biblioteca Estadual onde poderia encontrar artigos sobre o Japão de ontem.
--- Que estás a procurar? – indagou o seu noivo.
--- Nada. Coisa de mulher. – sorriu Racilva a seu noivo.
--- Vai demorar? – quis saber Glauco surpreso.
--- Um pouco. Talvez. – disse-lhe Racilva não querendo entrar em pormenores.
--- Está bem. Eu preciso ir falar com o Governador. Meu caso é boi. Vacas! – sorriu confuso o noivo de Racilva.
--- Os meus depois você fica sabendo. –sorriu a moça e descansar a face sobre as mãos com os cotovelos apoiados na mesa e o queixo entre as duas mãos.
O restaurante do Grande Hotel estava repleto dos habituais frequentadores. Essa massa de gente puxava conversa, principalmente sobre o gado do Estado e a decisão do Governo em por de quarentena o gado bovino. Glauco Rodrigues ainda pensou no seu rebanho e no costume de ter sido trazido pelos portugueses nos tempos idos. Ele pensava na quarentena dos animais porque o Governo queria ter uma perspectiva do tamanho da doença acometida no rebanho desde o Estado de Mato Grosso, percorrendo Goiás, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí sem com outros Estados do sul do Brasil.
--- É danado! Vamos? – perguntou de momento Glauco Rodrigues a sua noiva com a cara cheia de preocupação.
Na Biblioteca do Estado Racilva pediu ao atendente algo que abordasse o termo: Japão. O homem se apressou e procurou juntar os livros sobre o Japão e em seguida a moça procurou um local sossegado para poder ler tudo o que havia naquele material. E com sossego leu os artigos especializados onde entre muitos encontrou um descrevendo o Japão. Dizia o artigo que o Japão era um arquipélago ligado ao continente asiático. Isso, provavelmente há cem mil anos. E Racilva procurou continuar a ler o todo escrito. Após esse tempo houve a separação formando-se o Japão uma ilha. E com a marca deixada pelo tempo, de ossos fossilizados encontrou-se o povoamento da Ilha pelo povo do norte. Com efeito, 20 mil anos antes de Cristo os habitantes japoneses viviam da caça e da pesca: era o tempo Paleolítico ou a era do Jomon. O que trouxe esse povo desde a antiga era, ou era Neolítica, é a utilização da existência da pedra lascada, porém polida. A moça, cabisbaixa, apenas lia os fragmentos da historia antiga do povo do Japão. Os homens inventaram o arco, a lança e a flecha para a caça e a pesca. E também os japoneses ainda na era de Jomon criaram os artefatos de cerâmica. Potes de barro ricamente torneados serviam para o cozimento dos seus alimentos. Desse ponto vem o nome Jomon: marcas de corda. Em como moradia as tribos compartilhavam habitações em vala cavada na terra. Já nesse tempo os homens comiam o tutano encontrado nos ossos dos grandes animais. As vestes eram feitas da pele do veado. E daí veio a utilização do cão de caça. O cavalo veio tempos depois, na era de Yayoi.  A separação do período do Jomon para o Yayoi foi a cultura do arroz. O plantio do arroz. Desse tempo em diante vem o uso do metal como o bronze e o espelho, esse feito de metal usado nos rituais religiosos. Mas foi a cultura do arroz que provocou modificações profundas na vida social, política e econômica dos aldeões.  E foi assim que Racilva Arantes ficou conhecedora da vida de um povo distante.
---Ora. Ora. Tem muita coisa para se estudar. – ventilou Racilva consigo mesma.
O sol já começava a cair no horizonte. Nesse instante, Glauco Rodrigues chegou a Biblioteca Estadual para buscar a noiva para jantar em seu chalé não muito longe do local em que eles estavam. A moça se espreguiçou estendendo os braços para cima e para traz fazendo um leve gemido. O homem procurou ler o material de pesquisa da virtuosa noiva e logo teve alguma preocupação a respeito do tema:
--- Japão? – perguntou Glauco pesquisando os livros postos na mesa e com a cara franzida.
--- Sim. Uma bela história. Vinte mil anos antes de Cristo: nascia o Império que se tornaria o grande e colossal Japão. – sorriu a moça meio tonta de tanto estudar.
--- Mas você não estar pensando em morar no Japão! – perguntou espantado o homem.
--- Quem sabe? A vida é curta! – sorriu a moça a juntar os livros e se pôs a caminhar para o balcão de entrega e devolver os volumes ao rapaz.
--- Mas o Japão é longe. Povo de outra língua. Outros costumes. ...-  relatou Glauco a moça.
--- É. Eu sei disso. Mais próximo é Portugal. – disse a moça como quem ferindo a onça.  
--- Heim? – perguntou Glauco assustado.
--- Vamos para o chalé. Hoje deve haver visitas: o mordomo e a criadagem. – sorriu displicente Racilva a caminha para o automóvel.
À noite, no chalé, Glauco falou do encontro tido com o Governador. O homem do poder se mostrava irado com a doença do gado. E Glauco fez saber a Racilva ter sido decretado a virtual quarentena para todos os rebanhos seguindo todos os Estados da Federação até se saber qual a razão da enfermidade bovina.
--- Ah bom. Isso é duro! Na véspera do nosso matrimonio! – relatou Racilva a meia voz.
--- É. Mas isso não empata a nossa solenidade. Eu penso na viagem a França. O gado gordo ou magro está morrendo por lá a todo instante. E tem os outros países, como Holanda e Suíça. É fogo mesmo. Nem quero mais pensar. – comentou Glauco preocupado.
--- Não tem importância, amor. Nós vamos comer nos bares da vida de Natal ou Serra Grande. Ainda tem peixe. – sorriu a moça para o espanto de Glauco.
--- É. É. Mas o dinheiro vai embora! – relatou Glauco em tanto preocupado.
O mordomo se aproximou da mesa e indagou ao casal se tudo estava sendo servido ao seu gosto. E Glauco respondeu com um espirito de gozação.
--- É. Não está mau. Mas na Fazenda, Maria ainda ficou a indagar se não teve alguma bolacha. – sorriu Glauco para ver a cara de Racilva.
A moça, despreocupada, ainda perguntou:
--- Que Maria? –indagou a moça com olhar meio atravessado.

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