sábado, 17 de setembro de 2011

VENUS ESCARLATE - 53 -

- DESESPERANÇA -
- 53 -


Às dez horas da noite daquela quarta-feira do mês de dezembro, Glauco Rodrigues depois de passar um bom tempo na companhia de sua noiva e a conversar com o velho Jonas, pai de Racilva sobre questões do mal da vaca louca bem como a cólera aviaria entre outros males acometidos as aves e as vacas também. A conversa de Glauco e Jonas durou longo tempo acertado o criador de bovino não poder saber até quando a doença teria fim. Após essa conversa, Glauco se despediu da noiva Racilva, de sua mãe e do seu pai largando-se afinal para dormir no confortável chalé do bairro de Petrópolis. Quando Glauco deixou de vez o quarto em que dormia no Hotel Belas Artes, ele ficou morando no chalé em companhia de Elizabete Peres, a Bete, e logo depois com os criados. Ele pouco visitava o chalé a não ser para dormir quando não estava na fazenda Maxixe nos finais de semana, no município de Serra Grande, distante quase 200 quilômetros da capital. Nesse dia, faltando pouco tempo para Glauco se casar com Racilva, ele chegou ao chalé em seu próprio automóvel postando o mesmo na entrada lateral e o fechando depois de desligar o motor do veículo. Ao entrar no chalé deu boa noite ao mordomo e as empregadas rumando para o sua alcova. Não teve surpresa de ver Glauco a presença da governanta Elizabete Peres a arrumar o seu guarda-roupa onde ele já arrumara suas vestes, inclusive o traje próprio do casamento, na sexta-feira do final de semana conforme o acertado com o vigário da catedral. Então Glauco parou no meio do quarto a observar a moça ajeitando os seus pertences. Elizabete estava a arrumar de cócoras a parte baixa do armário e se voltou para Glauco apenas a sorrir. E em seguida lhe disse:

--- Arrumando a mala. – sorriu Elizabete enxugando a testa provocada pelo suor.

E o homem refletiu e depois de um curto espaço de tempo declarou:

--- Muito bem. E o armário de Racilva? – perguntou o homem percorrendo o ambiente do quarto com o pobre olhar.

--- É aquele do canto. E ainda faltam os arranjos da toalete. Já tem poltronas no largo do quarto, bibelôs, cortinas, banquetas, decoração a meia luz, jarros, bebidas finas, redes, fogão de quatro bocas, cama macia. ... Hum... - sorriu a governanta.

--- Por que você sorri. – indagou Glauco com um próprio de ciúmes.

--- Eu? Por nada! Você tem tudo e não precisa de mais nada. – relatou a moça com voz baixa.

--- É. Falta-me o principal. – disse Glauco amuado.

--- Ah. A nova. Essa se arranja. Cuidado com os prazeres da carne. – fez ver a moça.

--- Não tem prazeres. Tem vida longa. É isso. – comentou Glauco.

--- Pois é. E a dois. Isso traz contratempos. – relatou Bete então a suspender a arrumação da parte de cima do guarda roupa.

--- É. Pode ser. Mas eu duvido. – proclamou Glauco com severidade.

--- Você já foi casado. Tem experiência. Ela. Não! – sorriu a moça ao descer da parte superior o guarda roupa. E limpou os joelhos.

--- É. Fui casado. Por pouco tempo. E você poderia ter sido casada também. –alegou Glauco do meio do quarto ande estava até então.

--- Isso é outra estória. Eu me lembro de agora um caso de uma moça. Ela estava para casar. E de repente arranjou um namorado na véspera do casamento. Fugiu com o rapaz e não deu satisfação a ninguém. – relatou Bete a sorrir.

--- E o casamento? – indagou perplexo Glauco.

--- Esse foi para as cucuias. – disse por fim a moça.

--- Assim é f. .... – fez ver Glauco atormentado.

--- E você não teme que aconteça com você? – indagou Bete a sorrir.

--- Eu? Não. Não tenho medo algum. – respondeu sisudo o homem.

--- Confiante? – perguntou Bete ao patrão.

--- Não é confiante. É porque não vai ocorrer isso. – reclamou Glauco a sua namorada.

--- O homem tem confiança em si mesmo. A mulher prefere interrogar o homem. – sorriu Bete.

--- Que você quer dizer com isso? – perguntou o homem um pouco surpreso.

--- Nada. O que eu disse mesmo. A mulher é uma víbora! – sorriu Bete ao esplendor da vida.

--- É. A mulher tem sangue branco. – relatou o homem a pensar.

--- Sangue branco? Não se tem sangue branco. Apenas a mulher investiga o marido. – disse mais a moça.

--- É. Mas se ela for me investigar não vai pegar nada! –relatou o homem bem satisfeito.

--- Não? E a moça que você teve? – perguntou Bete sempre arguta.

--- Que moça que eu tive. Nunca tive moça alguma. Só você. – despachou Glauco atormentado.

--- Olhe que você teve. Uma que trabalhava no Teatro ou coisa assim. – sorriu contente Bete.

---Ah bom. Ela não era nada para mim. E penso que foi embora. – destacou Glauco de forma nervosa.

--- E o que restou do amor? – quis saber Bete a perguntar por Zilene.

--- Eu nunca tive nada com essa moça. Zilene! – replicou Glauco temeroso.

--- Não foi isso que eu ouvi. – declarou Bete a sorrir.

--- Juro por Deus. Não tive nada com ela. – relatou com temor o homem.

--- Não jure, pois quem jura, mente. – falou Bete ao seu amado.

--- Porque você diz isso? – indagou Glauco temeroso.

--- Vocês dois se enrolaram por varias vezes. Eu sei por que um “passarinho” me contou. – relatou Bete para ver a intenção do homem.

--- E o que foi que esse passarinho disse? – quis saber Glauco da moça.

--- Tudo. Os minutos e as horas. A cerveja e o gim. Tudo. Não faltou nada. – proferiu Bete.

Glauco ficou surpreso e de momento, com medo de tudo. Bete sabia mais do que dizia. E de repente, Glauco buscou uma saída.

--- Foi só uma vez e nada mais. E você eu tenho afeto com certeza. Racilva será a minha esposa, mas você será a minha companheira. – sorriu amargo o homem.

--- Companheira? E quem te garante que eu quero esse amor a dois? – quis saber Bete.

--- É bem melhor para nós. Você e eu e nada mais. – disse Glauco atordoado.

--- E Racilva com quem fica? – perguntou Bete ao ver o homem perdido.

--- Não sei. Ela fica como esposa. – advertiu Glauco sem coragem de reverter o quadro.

--- E eu a segunda mulher! Isso? – indagou Bete ao namorado.

--- Bem. É isso. Você tem a parte melhor no ganho da aposta. – fez ver Glauco atordoado.

--- Ganho? Que ganho? Eu não sou nada nessa aposta. - falou Bete ao homem.

O homem ficou em um dilema. Se ele sai ou se fica. E tudo isso por ter certeza de um amor de primavera ao acabar com o verão.  Sua cabeça rodava já por causa de Zilene onde ele nem sabia para qual canto a moça fora embora. Em cima de tudo, estava Bete. Ela colocou o homem em uma roda de fogo. E não sabia dizer o que era certo ou errado.

--- Mulheres! Mulheres! Meu Deus! Qual será o meu fim? – indagou silencioso Glauco.

E a moça foi de contra com Glauco.

--- Tem uma canção que diz: “Escuta! O nosso amor é um fracasso”. Não tem mais solução o nosso amor. Eu parto e você fica. Eu sei que vou te amar por toda a minha vida. Na noite em que a mulher da pensão me empurrou para o seu quarto, eu tive medo. Porém conheci em você um amigo naquela hora. Eu estava doente. E você me ajudou. Tempos depois eu pedi a oportunidade de vir morar com você. E você me proporcionou esse ensejo. Agora eu vou partir e você vai ficar. Em paz. Com toda a paz que lhe for possível. – confessou Bete ao homem.

--- Espere! Não faça assim. Tudo se ajeita. Espere! – reclamou Glauco apelando a Bete.

--- Escute essa letra: “Nunca! Nem que o mundo caia sobre mim. Nem se Deus mandar, nem mesmo assim, as pazes contigo eu farei. Nunca! Quando a gente perde a ilusão sente sepultar o coração como eu sepultei”. – recitou a moça os versos de uma canção.

Já passavam das onze horas quando a moça saiu do quarto de dormir de Glauco.

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