sábado, 3 de setembro de 2011

VENUS ESCARLATE - 39 -

- CARRO COLETOR -
- 39 -

Oito horas da manhã de sexta-feira. Zilene Caldas desceu do auto. Glauco Rodrigues rumou em direção oposta. Um garoto vinha em uma bicicleta. Quase atropelo a moça. E disse:
--- Cuidado boneca! – falou o rapaz olhando para trás.
Zilene teve um susto. Mas se aguentou e disse em resposta:
--- Babaca! – falou Zilene ao ciclista com muito ódio.
Com a cara obtusa a moça caminhou com os seus papeis colados ao busto procurando a entrada do Jornal, lugar onde trabalhava. O vento forte sobrou e arrancou os papeis sacudindo ao leu pelo chão a fora. Zilene procurou apanhar os papeis. Um caminhão tanque vindo. O motorista buzinou com insistência com uma buzina fazendo:
--- Panpan. – de forma alta e alarmante.
A moça estava agachada a apanhar os papeis espelhados pelo chão. Ela olhou para o carro com uma feição de não entender o buzinar. E de uma só vez gritou para o caminhão tanque que estava parado com uma cara agressiva, arrogante até a espera da moça se levantar e sair:
--- Passe por cima! Estupido! E vá pra merda! Não tem o que fazer? – descompôs a moça ao carro tanque hostil.
O motorista do carro tanque abriu o vidro da porá e disse:
--- Moça! Isso é uma via de transporte de carga! – falou o motorista.
--- E vá pra merda você também! – gritou esbravejante a moça para o motorista estirando o dedo maiúsculo da mão direita.
O pessoal que passava, sorriu a valer vendo a moça atarantada a sacudir a saia e sair calçada afora. O homem vindo com um fogão em sua cabeça ainda teve tempo de dizer:
--- Ele é mais forte que a senhora! – relatou o carregador quase não podendo falar.
A moça tinha a cabeça dolorida por causa da bebida tomada na noite e madrugada passadas. E nem respondeu ao carregador. Apenas saiu do caminho do carto de combustível cheia de ódio de rancor a pensar de nada ou de tudo o que fizera durante a madrugada. Ela não se lembrava de coisa alguma até beber um conteúdo branco em um copo postado na sua mesa. E lembrou apenas do nome dito por Glauco:
--- Gim! Que merda! Não bebo mais! Nunca na minha vida! – relatou em baixinho volume a moça.
Um homem vinha saindo do Jornal e teve tempo de lhe dizer:
--- Estão te procurando lá em cima. – relatou o homem a sair de calçada a fora.
Zilene deu uma rabissaca e nada respondeu. Nem sequer um muito obrigado. Ela apenas subiu os degraus da escadaria e buscou a entrada do Jornal. Era tudo tão confuso em sua mente que a moça nem pensava ao certo. A cabeça parecia um bombo. E tudo mais parecia diferente. Os seus olhos estavam a lacrimejar como nunca. Ela entrou na redação e procurou sua pauta. Enfim encontrou um papel e sacou para dentro da bolsa. Zilene apenas viu o que estava escrito com a cabeça zunindo a todo instante.    E ainda teve tempo de dizer:
--- Lixo! É uma merda! – respondeu a moça zangada.
E saiu de vez da redação, pois não tinha nada a fazer. Lá fora pegou o carro da reportagem e disse ao motorista.
--- Urbana! Tem assembleia dos catadores de lixo! Na certa farão greve! – resmungou a moça.
O motorista dirigiu o carro direto para o bairro das Quintas. Zilene não suportava a velocidade do carro e resolveu fechar os olhos como se estivesse a dormir. No sacolejo do carro ela ainda pensou na madrugada daquele dia.
--- Que bosta que eu fiz! – pensava alarmada a garota.
O carro brecou de vez. Ela abriu os olhos. Era um sinal de trânsito. E Zilene fechou a vista e tornou a pensar.
--- Ele é um filho de uma puta! Botou-me de porre! Quando acabar fez o que bem quis. Não me lembro de nada. E era um motel aquela baranga? – indagou sem jeito ao pensar.
O carro continuou a trafegar com máxima velocidade permitida. A cabeça de Zilene era quem zunia. Ela nem se lembrava da refeição matinal. Frutas, café, queijo, bolachas e suco. E então veio a vontade de vomitar. Porém a moça se aguentou.
--- Ressaca! Isso é uma porra! – e cuspiu Zilene para fora do carro.
Ao acabar de pensar no que fizera horas antes daquela manhã foi o tempo do carro encostar próximo ao prédio da Urbana. Um alarido enorme. Zilene não tinha sossego. Um carro de som a todo volume divulgava:
--- Estamos em estado de greve! Não ponha o lixo para fora de casa! – dizia em um verdadeiro alarido o locutor do carro de som.
E uma mulher perguntava a outra com as mãos nos quartos.
--- E agora? Onde vou botar meu lixo? – perguntou a mulher de modo inquieto
--- No cu da mãe dele! – cuspiu a outra ao responder a pergunta feita
Uma anciã vinha chegando já acorcovada e indagou.
--- É greve é? – indagou sorrindo a anciã.
--- Não está vendo velha! Tudo só se faz com greve! Tô pra ver! – respondeu a mulher primeira
A zoada infernal tomava conta do lugar. Alí era a Urbana. Mas sede do Sindicato dos Garis ficava em outro local. A multidão de catadores de lixo fazia a feira com bandeiras coloridas com a insígnia do partido entre outras bandeiras de alguns partidos de menor importância. Os trabalhadores gritavam por melhorias salarias:
--- Queremos salários justos! Queremos salários justos! – gritavam os trabalhadores.
Um homem subiu no carro de som para dizer:
--- Não se pode viver com salário de fome! – era o que dizia o chefe dos garis.
Entre toda essa azafama estava Zilene com a sua cabeça moída. E procurou por entre os outros repórteres buscar uma palavra do presidente do Sindicato. E o encontrou:
--- Estamos em greve total a partir de agora! – relatou o presidente com ênfase.
--- Nem o lixo hospitalar? – indagou Zilene.
--- Nem esse. Estamos em greve por melhores salários! – respondeu o presidente do Sindicato
--- E os restaurantes? – voltou a indagar Zilene diante de tanta balburdia dos garis.
--- Não temos nada contra os restaurantes. Mas eles que conservem seu lixo nos depósitos, - ressaltou o presidente.
--- E as moscas? – perguntou bem forte Zilene.
--- Que moscas? Que moscas? Não temos nada contra as moscas! – relatou o presidente.
Ao retornar a redação um tanto confusa, Zilene entro depressa e foi dizendo:
--- Greve geral! – fez ver Zilene.
Então, o chefe dos repórteres indagou:
--- E a matéria do Ministro? – indagou o chefe de reportagem.
--- Que Ministro? – perguntou assustada a moça.
---Tá vendo. Você trocou as pautas! – respondeu ele agressivo.
--- Ai meu Deus! Essa era de Antônio! Nem vi! – sorriu Zilene a ocupar a maquina.
O chefe de redação entrou na hora e declarou sem exceção. 
--- Põe essa matéria da primeira página. – declarou saem relutância o chefe.
--- E a do Ministro? – perguntou o rapaz olhando o seu chefe que passava;
--- Põe em outra página qualquer. Matéria dos garis é mais importante: GARIS EM GREVE. Só isso.



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