terça-feira, 20 de setembro de 2011

VENUS ESCARLATE - 56 -

- IGREJA MATRIZ -
- 56 -
O relógio da Catedral batia às cinco horas da tarde. O templo estava repleto de gente. Cada pessoa ansiasse cada vez mais pela entrada da virgem Racilva Arantes. Calor terrível capaz de trazer loucuras alucinantes. Carros a buzinar do lado de fora do templo. Meninos e meninas a brincar e a sorrir. Homens e mulheres chagavam parecendo estar em atraso. Autoridades em geral compunham o bendito santuário. No altar mor, estava o Padre, o noivo, os pais de Glauco um lado; e do outro os parentes da noiva loucos para ver a entrada triunfal de Racilva. Nada cabia mais de tanta emoção. No interior da nave as pessoas conversavam de modo baixo e sorriam a seguir. Crianças buliçosas agitavam-se para seguir a algum lugar.
--- Ô calor! – dizia um abanando com um leque.
--- Que demora! – outro argumentava por conta da espera.
--- Tenha calma! Todo casamento é assim. Demorado! – respondia um terceiro.
--- Fica aqui! Te aquieta! Ora! – falava baixo uma mãe ao seu filho.
--- Você não vem mais! – respondia a irmã com muita raiva.
--- E a noiva? – perguntava a anciã a sua nora.
--- Ela já vem. - respondia o filho procurando tranquilizar a anciã.
--- Que horas? – indagava uma das autoridades presentes.
E as horas passavam tranquilas. Em um dado momento aparece Racilva Arantes na porta principal do templo a saltar da limusine branca acompanhada por mais três pessoas. A descer do automóvel alguém lhe disse em um instante:
--- Tenha cuidado com o traje! – lhe dizia baixo a moça a cuidar dos aprontos finais.
Era uma coleção de “Jade” aquela veste nupcial. Ao entrar na Santa Igreja, Racilva chorou diante do canto vibrante da Marcha Nupcial de Felix Mendelssohn, composta em 1842. Era uma presença obrigatória do inicio ao fim das cerimonias de casamento em todo o mundo. A marcha fazia parte de “Sonhos de uma Noite de Verão”.  E diante de tal fato, desconhecendo até, Racilva Arantes apenas sorria e chorava pela magnitude do ato. Havia quem dissesse:
--- Que maravilha! – comentava um.
---Ela parece uma deusa! – explicava outro.
--- Igual a uma Vênus! – dizia alguém assustado com tamanha majestade esplendorosa.
--- Vênus Escarlate! Veja o rosto da virgem! – explicava alguém a admirar tamanha formosura
E Marcha Nupcial entoava seu canto de efêmera ostentação e realeza. No altar mor o noivo garboso vendo a sua amada a caminhar lentamente com um véu de rendas emplumado a lhe cobrir a nobre face afligida de tanto amor. O caminhar passo a passo ostentava um buque de rosas entre cores variadas aplacando quase ao seio. Com o véu descendo às costas, Racilva era todo um deslumbramento imaculado. Os pares de crianças à sua frente vestiam os meninos trajes de gala todo em negro e, as meninas, trajes em cetim branco.  As crianças formavam os pares de alegres guardas de honra postos em todas as núpcias. E Racilva não sabia de sorria ou se chorava a olhar o seu noivo a caminho do altar. Algumas mulheres ainda alertavam para o vestido da noiva:
--- É todo branco! – dizia baixinho uma mulher.
--- É um traje belo. – argumentava outra.
Entre palmas e ovações, a caminhar lentamente, Racilva e o seu velho pai chegaram ao altar da Santa Igreja onde o padre iniciou a celebração após o noivo tomar as mãos de Racilva. Em tal momento, Glauco estava plenamente satisfeito com aquele matrimônio. Enfim o tempo passou de repente. Alheio as esperanças, Glauco apenas ouviu a sua noiva a dizer:
--- Eu te amo! – e sorriu de esperança ao dizer tudo aquilo muito baixo.
E o padre rezava contrita a oração de casamento rogando a Jesus de se aproximar do sangue e do corpo de Deus era o momento mais belo de as duas almas desejam naquela ocasião. E o coral começava a entoar hinos de louvor e oração para o casal de nubentes. O sacerdote continuava a celebração no altar até o seu final, a saber, das aspirações dos dois noivos perante o altar. Ao findar a cerimonia religiosa os noivos saíram alegres para a sacristia onde efetuavam a prece das alianças. Logo após Glauco e Racilva seguiram para fora do templo. A moça, como de costume sacudiu o ramalhete de rosas para o alto com o intuito de alguém pegar de volta.
A festa no Hotel “Samburá” durou até altas horas da madrugada, Após a orquestra entoar a valsa de abertura da solenidade e o casal tomarem as mãos a se puseram a dançar com suaves encantos, o restante do pessoal também aproveito a dança da festa. Foi nesse momento que Glauco e Racilva saíram de fininho e alcançaram veiculo deixando todos alegres e satisfeitos. Os dois rumaram para uma praia distante onde um amigo de Glauco conseguiu uma casa para os nobres nubentes a passar a lua de mel por um tempo. Era uma habitação a beira-mar onde se avistava o oceano em plena solidão e nada mais. E os dois eternos amantes, abraçadinhos e descuidados ficaram a dormir como dois namorados na alcova da vida.
Passaram-se dois anos. O mau da vaca louca havia sumido de vez. Racilva acolhia apenas em seus braços a menina de um ano de vida. Da esperança de viajar para o Rio de Janeiro, Paris e Roma, só ficou na imaginação de Racilva. Logos após o casamento, um mês ou dois, Racilva engravidou. E com nove meses teve a criança robusta. Uma menina. E assim ficou ela, a menina e Glauco no chalé a comentar qual o tempo de iniciar a viagem ao sul do Brasil. Mas o tempo não dizia. E certa vez, quando os dois estavam em seu chalé, o mordomo veio avisar da presença de uma moça a querer falar com a dona da casa. E Racilva,, preocupada perguntou:
--- De quem se trata? – indagou Racilva.
E o mordomo respondeu.
--- Dona Zilene Caldas. Ela e um menino de dois anos. Ela veio em um carro. E está fora do quintal. - - relatou o mordomo muito bem comportado.
--- Zilene? – gritou alarmada e seguida seguiu para frente do chalé.
A moça já uma senhora era mesmo Zilene. Ela estava a sorrir para a amiga de tantos anos e abriu os braços para abraça-la de vez. Nesse instante, Glauco Rodrigues também surgiu à porta do Chalé e gritou:
--- Zilene! Que alegria! – disse o homem em plena felicidade.
--- Eu estou aqui, agora. – sorriu Zilene em plena emoção. E mostrou o seu belo filho.
--- Mas que garoto formoso! – relatou o homem ao pegar o menino em seus braços.
--- É um mimo ele. Seu nome é Augusto. – sorriu Zilene sem temor.
--- Augusto e Vitória. – sorriu Racilva ao mostra a sua filha queria.
--- Muito bem. Vitória. Lindo nome. – disse Zilene a adentrar no chalé do casal e a caminhar muito delicada.
E a conversa demorou por longo tempo com Governanta Elizabete a sorrir contente ao ver a garota Vitória se entrosando facilmente com o menino Augusto. O pai de Vitória disse por várias vezes ter o menino semelhança com alguém de sua família. E Zilene apenas ressaltou:
--- Ele não tem pai! Só tem mãe. O pai morreu antes do nascimento de Augusto. – formalizou a senhora Zilene.
--- Isso é terrível! Morreu? De que? – indagou Glauco amedrontado.
--- Mal súbito! – respondeu Zilene sem muita atenção.
--- Pena! Mas se ele – o menino – não tem pai, pode ter um padrasto. – sorriu Glauco ao admirar o garoto.
--- Na verdade ele tem aparência com o Coronel Fabriciano. – ressaltou Racilva.
--- No Brasil há uma miscigenação.  Uns se parecem com outros. – sorriu Zilene.
E a conversa prosseguiu com mais vagar. Foi então que Glauco indagou o que Zilene Caldas fazia na cidade.
--- Teatro. Eu estou com uma peça baseada em um livro de João Guimarães Rosa cujo título é Sagarana. – respondeu Zilene com seu traje de seda em varias estampas, sapato salto alto, meias nas pernas, luvas nas mãos, brinco e colares, bracelete e anéis e um relógio Mido.
--- Sagarana? Em imagino que ouvi falar no livro. Guimaraes Rosa é um talento. – descreveu Glauco.
--- E quanto tempo vai permanecer aqui? – indagou Racilva a Zilene.
Enquanto isso, Bete com suavidade na face admirava com enorme ternura e meiguice o casal de crianças a brincar como dois infantes de forma meiga e acriançado. Em momentos, Glauco observou também para o menino sem querer alguma coisa dizer. Ele olhava-o tão somente. No outro lado da sala oval as duas mulheres conversavam como se nada ficasse a acontecer. Bete olhou para Glauco com imenso carinho e profundo afeto, porém nada mais falou. E os dois irmãos brincavam desprevenidamente.
- FIM –

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