sábado, 10 de setembro de 2011

VENUS ESCARLATE - 46 -

- MAGISTÉRIO -
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Na sexta feira à noite era a comemoração da formatura dos concluintes do curso de Magistério em festa organizada em um local bem elegante da capital. O salão estava cheio de gente. O pessoal de Racilva Arantes eram seus pais, tios, primos e também o noivo, Glauco Rodrigues e mais Walquiria Rodrigues, sobrinhas de Glauco. Também estavam o coronel Ahrtur Timbó e sua amada esposa Nair Rodrigues além de um bom fulcro de gente conhecida sem falar nos demais componentes dos outros concluintes do Magistério. Era uma suprema festa muito bem organizada e divertida. O Governador do Estado e seu secretariado estavam presentes bem como o Prefeito da Capital. O Magistério é um ensino de primário ou Educação Fundamental. Mesmo assim, Racilva pensava em ir mais distante. Então, esse era o primeiro degrau para o Ensino. Walquiria, bastante animada e toda prosa, diretora do Colégio João de Deus, sorria a largas conversas com sua amiga Racilva Arantes e demais convidados para a festa. Uma turma intensa havia no salão de banquete escolhido para o diletante evento. Noivos, namorados e paqueradores de outras moças estavam também presentes bem como algumas sofisticadas moças olhavam os rapazes mais distantes a fim de pegar para dançar. E a dança começou com uma valsa do compositor austríaco Franz Schubert. E a seguir outras valsas mesmo brasileiras. Enfim, todos dançaram inclusive Racilva Arantes com o seu noivo Glauco Rodrigues até as primeiras horas da madrugada quanto a gente se foi para as suas casas.
Walquiria Rodrigues, animada como que, sempre dizia a Racilva modesta e acanhada:
--- E o casório vai ser assim? – indagou Walquiria a gargalhar.
E a moça respondia sorrindo.
--- Será melhor. Pergunte a ele! – apontava para o seu noivo Glauco.
Com o final da festa de formatura de professoras, Glauco e Racilva rumaram para a casa onde a moça morava. No meio do caminho Glauco falou breve.
--- Mais tarde nós iremos ao nosso chalé para ver como tudo está. Hoje, eu vou dormir mesmo no chalé, pois o quarto do Hotel eu entreguei ontem. Tenho uma empregada. Ela faz os preparos da comida para mim. E por esses dias eu espero chegar mais três criados. Esse pessoal está sendo recrutado por uma casa encarregada em preparos de chalé e chácaras entre outras coisas do ramo. Eu escolhi essa moça, por sinal bem jovem porque ela me pediu para ser uma espécie de camareira. E eu prometi e ela, hoje, está no chalé. Só quero vê. – sorriu Glauco ao informar as coisas do chalé.  E sorriu para disfarçar.
A moça ouviu tudo e nada comentou. Em um instante Racilva olhou para trás para ver se os pais estavam dormindo. Porém todos estavam acordados. A moça olhou de soslaio o seu noivo e esse apenas dirigia o seu carro sem nada deixar a notar. E então ela perguntou:
--- Você entregou tudo mesmo? – indagou a moça ao noivo.
--- Sim. Falta apenas apanhar algumas coisas. – respondeu Glauco ao dirigir com cuidado.
--- E nem me disse? – reclamou a moça acabrunhada.
--- Foi ontem. Antes de vir para a festa. – sorriu o homem ao desviar de um gato na rua.
--- Mas você já estava planejando há algum tempo? – perguntou Racilva a Glauco.
--- Bem que estava. Mas, apenas na noite passada eu resolvi entregar à chave a mulher do Hotel. Dalila. É. Dalila! Espécie de gerente do hotel. O dono mesmo é outro senhor.
--- Quem é ele? – perguntou Racilva um pouco amuada.
--- Anselmo. Anselmo Duarte. Ele nunca vai ao Hotel. Tem outras ocupações. Lojas. Enfim, muitas outras ocupações. – destacou Glauco de modo sério.
--- Eu nunca vi a loja dele! – reclamou Racilva meio constrangida.
--- Eu creio que você já esteve em uma loja de Anselmo. Você foi levar uns documentos. – respondeu Glauco querendo disfarça o leve ciúme que brotava na moça.
--- Documentos? Que documentos? – perguntou a moça desconfiada.
--- Uns documentos. Eles estavam na cesta. – respondeu Glauco.
--- Não me lembro de tais documentos. – respondeu a moça, com efeito.
--- Parece. Não sei. Ou foi você ou Ribeiro. Uma coisa assim. – disse Glauco entrando da Avenida Três onde morava Racilva.
--- Vou acreditar! – respondeu a moça já ao descer do carro.
--- Acredite. Pode acreditar. E pergunte a Ribeiro! – respondeu Glauco afirmando a conversa.
A moça abriu e fechou a porta do automóvel e se voltou para o lado em que seguia seu pai. Nesse tempo, o velho Jonas descia do carro e dizia:
--- Obrigado por sua ajuda. Eu agora vou tratar das minhas galinhas. – respondeu Jonas.
--- Velho besta! Só pensa nas galinhas! – reclamou a mulher Lindalva torcendo a cara e saindo do carro do seu quase genro.
--- É a vida dele, comadre. É a vida dele! – sorriu festivo o homem Glauco.
E então deu um beijo na sua noiva antes de sair em disparada rua a fora. Nas casas ao lado as janelas levemente se abriram. Em uma delas uma cabeça. E chamou baixinho:
--- Puta! Não passa de uma puta! – a o rosto de um homem fechou em seguida a janela.
--- Vem te deitar, homem. Tu te incomodas com a vida dos outros! Repara nas tuas filhas. – reclamou a voz de mulher de dentro do quarto.
Às onze horas da manhã do sábado Glauco e Racilva chegaram ao chalé localizado frente à praia do Meio. Àquela altura, a praia estava cheia de gente vinda dos bairros de Petrópolis, Cidade, Tirol e Alecrim. Os pescadores puxavam a rede para extrair o seu pescado. Curiosos estavam a postos verificando a quantidade de peixe. Um rapaz alertou:
--- Uma arraia! – apontou assustado o rapaz.
O pescador cuspiu de lado e puxou a arraia pela cauda e jogou para fora. Outro rapaz foi dizendo alarmado.
--- Tubarão! – relatou o rapaz de olhos esbugalhados.
--- É cação, seu merda! – respondeu outro para o amedrontado apreciador da pescaria. A rede estava quase toda de fora com os pescadores a retirar peixes grandes e miúdos. Os homens do mar pouco falavam entre si. A não ser quando mandavam um peixe para a mulher tratar.
--- Leva pra casa! – dizia o pescador com a sua voz baixa e grossa.
O menino corria com o pescado na mão a procura de sua mãe e a lhe entregar uma cioba. Outros esperavam a sua vez. Do alto do penhasco estavam Glauco e Racilva a admirar todo aquele esplendor de mar. O Forte, a pequena estrada, a casa redonda, casinhas de palha entre tantas coisas ao derredor. O vento sobrava forte no cume do morro chamado de Petrópolis onde a vida passava lenta e briosa. Os dois amantes ficaram a admirar o oceano perdido nas entranhas do além. Um navio passava ao largo apenas se vendo a silhueta de quase nada a navegar mar afora em direção ao sul do Brasil. Botes singravam as terríveis ondas. A cada passo o mar se agigantava apesar de não ter susto aos dois amantes. 
--- Lindo o mar! – refletiu em voz baixa Racilva.
--- Diz um poeta: “É doce morrer no mar. Nas ondas verdes do mar”! – sorriu Glauco ao abraçar a sua noiva.
--- Eu ainda viajo de navio! – sonhou Racilva com olhos ternos de amor.
--- Olhe! Alí você enxerga a praia da Redinha. Não queria conhecer a Redinha? Pois está ali! – sorriu satisfeito o homem.
A moça sorriu e olhou para o seu amado noivo.
--- Redinha! Que bela! – recitou nostálgica a moça.
--- Tem uma capela lá no fundo da Redinha. Toda branca. É uma capela! – discorreu Glauco.
--- Que doce se casar em uma capelinha como aquela! – sonhou Racilva a admirar a capela quase nada, bem pequena e modesta.
Barcos chegavam do mar pelo rio Potengi ansiando em aportar de vez do seu cais  do Canto do Mangue onde deixava todo o seu conteúdo da pescaria de dois ou mais dias. E isso, Racilva nem sequer pensava. Apenas seguia o ritmo dos anseios a cobrir os seus adágios.
--- Os senhores vão almoçar aqui? – perguntou Bete temendo a presença de Racilva.
--- Nós vamos sim. – sorriu modesto o homem Glauco.
--- Está na mesa. – respondeu a moça ao seu patrão e se afastou para o interior do chalé.

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