sexta-feira, 30 de setembro de 2011

ANA LUNA - 01 -

- ANA LUNA -
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Era manhã de meio de semana. No alto sertão do nordeste brasileiro se ouvia o canto dos pássaros no meio do matagal existente na região coberta por árvores como a jurema, a algaroba, o juazeiro, a castanhola, o umbuzeiro e o pé de turco além de vários outros cuja existência ia para além do que se podia imaginar. Por entre o mato rasteiro de cima de uma colina estava ali olhando com cuidado o homem Manoel Jacó, vaqueiro da Fazenda Maxixe do Coronel Ezequiel Luna Torres, a casa em baixo, tapera feita de taipa pintada de branco com uma porta e uma janela de frente e nada mais. Ele esperava a saída da casa de Maria Rosa, mãe da mocinha Ana Luna para poder chegar diante da porta feita em duas bandas serrada no meio e fazer a empreitada que queria inventar. Na manhã daquele dia eram cerca de sete horas e ele havia chegado à colina meia hora antes. O sol parecia ser escaldante no restar daquele penoso dia, pois naquela hora já era sentida a sua força com as moscas voando ao redor do homem que as espantava de qualquer jeito apesar de sua roupa que lhe protegia de tudo o que era de mau. Manoel Jacó vestia roupa de vaqueiro como sendo gibão de couro, perneiras, guarda-peito, calçando um sapato com perneiras e esporas, pondo na cabeça um chapéu também de couro. Era enfim uma roupa completa de vaqueiro tendo por baixo a sua roupa comum. Os marimbondos azucrinavam o homem que ele não parava de espantar com o seu chapéu. Até mesmo o besouro “cavalo do cão” ele sacudia o chapéu para espantá-lo para mais longe. O seu cavalo, Manoel deixara amarrado há uns cinquenta metros de distancia em baixo de um juazeiro onde ninguém podia vê-lo, pois ao redor tinha pés de linhaça dentre outros mais. Aquela cobiça o homem já fizera dias antes e naquela hora tinha a certeza de que não falharia outra vez. Com o passar das horas, Manoel Jacó viu a fumaça saindo por uma chaminé de fogão a lenha que Maria Rosa fizera para cozinhar em uma panela de barro com certeza o feijão de corda que a mulher havia posto de molho na noite do dia anterior. Então Manoel Jacó sorriu de contente, pois há sua hora estava prestes a chegar. Na cabeça do homem ainda pairava um pouco da ressaca da bebida que havia tomado na noite do dia anterior. Um travo na boca lhe fazia faltar até mesmo o cuspe apesar de estar a mascar um naco de fumo de corda.
E quando menos ele esperava, a mulher abriu a porta de baixo, puxando pela mão o seu filho mais novo de uns oito anos e dando recomendações à filha mais velha, Ana Luna, de seus catorze anos. Qualquer coisa que ele não ouvira e nem queria saber a razão do que a mãe, Maria Rosa, dizia. Para Manoel Jacó só interessava a mocinha Ana Luna, bela e jeitosa para o seu tempo capaz de alucinar qualquer outro homem. Ele deixou a mulher se distanciar, com eu menino a tira colo e a trouxa de roupa na cabeça que ela levava para lavar nas ribanceiras do Riacho das Pedras, logo abaixo da casa onde ela morava com seus dois filhos, um casal por sinal. A mulher Maria Rosa não tinha homem e servia ao gosto do viúvo Coronel Ezequiel. Disso, Manoel Jacó estava inteirado como sabia também que Ana Luna era filha do coronel, tida de um parto quando a mulher do seu patrão já havia morrido há cerca de quinze anos. Apesar de saber da historia de Luna, o vaqueiro não conhecera a mulher do fazendeiro, dono de boa parte da terra que se estendia de um estado a outro naquele sertão bruto em cerca de duzentos hectares bem medidos e costumeiramente produtivos.
Quando a mulher já havia sumido na terra plana, então Manoel Jacó se levantou de onde estava estendendo os músculos, pois de tanto agachado já então lhe fazia um pouco de lassidão, ouvindo estalar todos os ossos do corpo. Em seguida, apanhou uma trocha de roupa que trazia consigo e desceu a colina até a casa de Maria Rosa. Em La chegando verificou se havia gente por perto e por longe, não a observar ninguém. Ele bateu palmas na porta para chamar, com certeza, Ana Luna. A mocinha veio atender, ficando escorada no portal da sala, com um pé cruzado. Manoel Jacó perguntou por sua mãe, porém já sabendo que Maria Rosa havia saído.
--- Ela foi pro rio lavar roupa. – respondeu a moça palitando os dentes com a unha.
--- Ô com os diabos. Mas, não tem importância. Eu tenho umas roupas para ela lavar. Estão aqui. Olhe. – suspendeu o homem a trocha de roupas.
--- Pode deixar que eu entrego a ela. Me dê a roupa! – falou Ana Luna com certa prudência.
A mocinha conhecera o homem como o vaqueiro Manoel, da Fazenda Maxixe, pertencente ao seu pai, o coronel Ezequiel. De modo que nem por isso ela guardou medo de uma ação inesperada. Ela veio e apanhou a trouxa de roupa e guardou no canto da sala, um espaço pequeno onde havia três cadeiras e um tamborete. Uma rede estava embrulhada no punho da sala. Nada havia ali de riqueza, apesar da mulher ter um romance com o fazendeiro mais rico da região. E o vaqueiro ficou a olhar com tamanha esperteza o corpo da menina-moça, pura e virgem sem que alguém tivesse tocado naquele delicado corpo juvenil. E então Jacó falou outra vez.
--- Moça! Você pode me arrumar um caneco d’água? É pra matar a sede que eu tenho depois de muito caminhar! – falou Manoel Jacó de forma alheia como se quisesse apenas aquilo que pedira.
--- Pois não. Vou buscar lá dentro, na cozinha. – respondeu Luna saindo para a cozinha.
Nesse instante, Manoel Jacó abriu a porta de baixo e entrou depressa pegando a jovem pela garganta, com a outra mão fechando a sua boca e dizendo que ela não fizesse nada e nem gritasse pois ele somente queria fazer sexo e nada mais empurrando Luna para cima da cama desarrumada de solteiro, com uma lâmina de punhal encostada na garganta da bela moça, que se mostrava de plena amedrontada levantando-lhe o vestido simples de algodãozinho e retirando a sua veste de baixo, fazendo com ela a primeira cópula que a bela jovem já fizera. Então se debatendo por todos os seus meios apesar do punhal em sua garganta a jovem não teve a certeza de que aquilo era uma sedução. Ao terminar o ato, o homem cuspiu na cara a moça que ainda assim lhe arrancou o botão do seu guarda-peito de tão enervada que estava tremendo de horror e sofrendo pelas dores cruéis que o homem lhe afrontou naquele extremo ato libidinoso. O vaqueiro saiu do quarto advertindo que a jovem não dissesse nada a ninguém, pois se ela falasse a mataria. Isso com todo o requinte cruel de perversidade. Ana Luna nem ouviu tais advertências, pois as dores que sentia eram por demais terríveis. O homem, quando ainda estava na porta do quarto a chamou:
--- PUTA!!! - falou Manoel Vaqueiro para a pobre moça que se contorcia de dores.
E saiu logo em seguida apanhando a sua trouxa de que Luna tinha posto na sala de entrada encostada a parede do quarto. A jovem moça ficou deitada em sua cama, contorcendo-se de dor por ter sido seviciada inoportunamente pelo vaqueiro Jacó. O sangue que jorrava do seu organismo, ela nem notara. O feijão ferveu na panela que chegou a tostar. De nada a bela Luna se importava, pois ficou durante muito tempo encolhida, como um caracol, no seu feio e estranho cômodo onde havia mais que tudo um camiseiro caindo aos pedaços e uma cadeira que não prestaria para coisa alguma. Aquele foi o dia pior de sua existência com os poucos anos por ela vividos. Ao chegar o meio-dia, Luna se levantou da cama, viu o estrago que sofrera e, no quintal, vomitou tudo o que tinha ou não tinha ingerido durante toda aquela manhã. A dor do punhal em sua garganta forçada pelo vaqueiro Jacó lhe doía ainda mais, mesmo sem ter feito qualquer ferimento. Era, então, a sensação do medo e do terror que se fazia presente. Após ter vomitado até o próprio sangue que vinha da parte de sua garganta, Luna foi ao banheiro improvisado da sua casa onde, em meio da comoção e do choro por ter sido deflorada a contragosto, tomou um banho frio, limpando de sua pele por todo canto a lembrança que lhe tinha imposto o vaqueiro Jacó naquela terrível manhã de sol escaldante

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