segunda-feira, 29 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 34 -

- CASAL DE NAMORADOS -
- 34 -
Quando a moça Racilva chegou à casa de Severino Tupinambá. Uma mulher magra se escorava na porta com o seu cachimbo na boca. Um pano de saco cobria a sua cabeça. A veste estava toda em desalinho. Um vestido comum e a gola subindo até o pescoço. A porta dava sinal de ter a mulher algo em torno de um metro e sessenta, pois estava a mulher a se escorar em uma banda cerrada ao meio. A luz difusa de um candeeiro amarelado dava a impressão de não ter mais energia elétrica na casa. Ou se tivesse, estaria desligada. Uma casa à frente abriu bem pouco à porta e a mulher a olhar para fora e observar quem estava alí àquela hora da noite. Quando Glauco procurou ver de quem se tratava, de imediato a porta foi fechada. Um ébrio dormia a sono solto sob o pé de tatajuba. As outras casas também estavam fechadas ou com meia banda aberta. Os meninos a observar o automóvel se escoravam no vidro da porta com as suas mãos da testa. A mãe de um deles o chamou.
--- Passe já pra dentro seu peste! – falou brava a mulher e de imediato fechou a porta.
Sem outro meio, Glauco sorriu. A moça Racilva estando na porta da casa perguntou a mulher franzina e meio amareleça.
--- Tupinambá atende hoje? – indagou Racilva com uma voz sumida.
A mulher olhou a moça antes de perguntar e olhando para as casas em frente.
--- Onde a senhora mora? – e olhou para o homem expulsando em seguida uma rala cusparada pelo canto da boca.
--- Eu moro no Alecrim. Eu já estive com ele. – respondeu a moça em voz baixa.
A mulher tornou a olhar a moça e o homem antes de responder tirando o cachimbo da boca.
--- No Alecrim? Ah bom. Pois faz uma semana que Tupinambá desencarnou. Ele recebeu um espirito muito forte durante a sessão e “ploc“. Desencarnou na hora. – respondeu a mulher magra e feia.
A mulher olhou bem para a jovem e observou os seus sentidos de bem ou de mal.
--- Meu Deus! Desencarnou? Como pode? – disse por fim a moça a tremer.
O noivo se aproximou de Racilva Arantes e segurou a moça pelos seus ombros aguentando qualquer tombo que pudesse ocorrer naquele instante. A moça se escorou no seu noivo e tremendo disse.
--- Não! A senhora está brincando comigo! – refletiu a moça enquanto a mulher abria a porta permitindo que ela entrasse.
--- É verdade, moça. Sente aqui. Vou ligar a luz. Pois foi. Um baque só. Era um espirito que estava em uma menina. Saiu da menina ainda nova, de doze anos se não me engano e pegou Severino Tupinambá. Ele estrebuchou e desencarnou alí mesmo. – enfatizou a mulher magra demais.
--- Incrível isso! Pois Tupinambá sempre me dia não ser impossível um espírito se manifestar em outra pessoa e essa morrer ou desencarnar. Ele sempre dizia que um espírito mau não tem forças para um médium. E se Tupinambá desencarnou, foi porque chegou a sua hora de ir para o outro lado da vida. E não pelo espírito maléfico. Isso é incrível! – comentou Racilva a mulher.
--- Bem. Eu sei que foi desse jeito. Se ele desencarnou por causa do espírito isso é agora com ele e eu não tenho nada a haver com isso. – respondeu a mulher meio enjoada com a estória.
--- É verdade! Isso é com ele. Mas fica pendente a questão da menina! – declarou Racilva.
--- É. A menina nem era essa coisas todas. Talvez não fosse mais de nada! – reclamou a mulher já enfezada.
--- Pode ser. Isso pode ser. Às vezes nós julgamos sem ter a certeza. – pregou Racilva.
E com isso, a moça se despediu e rumou para o carro novo do seu noivo. A noite era sem luar e as casas do bairro das Rocas estavam, em sua maioria, fechadas. Algumas ainda tinham a luz elétrica acesa e os operários já chegavam a suas moradias, eles vindos de outras partes da cidade. Moças e rapazes rumavam para a escola noturna a tagarelar dos aspectos das matérias e da lição dia. O caldo de cana do seu Leão já estava repleto de consumidores em algazarra. Tinham eles alguns miúdos trocados para fazer uma refeição rápida. Um modesto bilhar estava com suas mesas de portas abertas àquela hora da noite. Os cães latiam à passagem do carro novo de Glauco. Em um trecho da rua uma farmácia despachava remédios populares aos seus consumistas. No final da rua começava tudo de novo, com padarias abertas, barbearias e algumas peixarias a atender seus clientes noturnos. Era a vida começando de novo. Racilva enxugou a lágrima a escorrer por sua face.
A noite estava repleta de pessoas no bairro da Ribeira. Após a deixar a sua noiva em casa, no bairro do Alecrim, Glauco voltou ao Hotel Belas Artes onde pensava em retornar ao seu exíguo espaço do apartamento. O automóvel, ele deixara guardado no muro da oficina Ford onde havia o homem da noite. Esse homem era o então chamado João. E para não se esquecer do nome Glauco chamaria então de João do Posto. Com o orgulho e satisfação de João do Posto em ter cuidado em tomar conta do carro novo, Glauco rumou para o seu apartamento do Hotel. Antes de dobrar a esquina, Glauco ouviu uma voz a chamar pelo seu nome. Ele no meio do pensamento em ver Racilva desiludia com a morte de Severino Tupinambá não deu tanta importância. Porém a voz seguia a chamar:
--- Glauco! Espere! Um instante! – vez vera voz de uma moça.
Glauco Rodrigues se voltou e notou em larga correria a moça chamada Zilene Caldas vindo em sua direção. Ele notou de imediato ter Zilene algo de contente e apressada. Então Glauco se ligou em atender ao chamado de Zilene Caldas. Ela estava a sair do Teatro naquele espaço de hora. Os demais componentes do grupo ficaram a tagarelar na calçada do teatro e outros mais dentro onde estavam guardados os placares das futuras apresentações das companhias. E o homem então reconheceu a figura de Zilene Caldas.
--- Olá! Já terminaram os estudos? – indagou surpreso o homem.
--- Quase não houve. Faltou gente. – respondeu a moça ao atravessar correndo a curta Rua Sachet, olhando para um lado e para o outro se prevenindo de algum carro a passar.
--- Ah bom. Você vai para a sua casa? – indagou Glauco a Zilene.
--- Acho que sim. E Racilva? Ela está com você. – indagou já sem pressa a moça estando ao lado de Glauco após atravessar a rua.
--- Não. Ela está em casa. – respondeu Glauco em meio a uns transeuntes passantes dos bares da vida noturna do bairro da Ribeira.
--- Ah bom. E as Rocas? Ela acertou? – indagou Zilene com os ensaios presos ao peito.
--- É. Nos fomos até a casa do homem. Mas aconteceu o pior. –respondeu Glauco balançado a cabeça.
--- Foi mesmo? O que se deu? – perguntou aflita a moça.
---(Um sorriso breve) – O homem morreu. Faz uma semana!. – e calou de vez ao responder a Zilene Caldas.
--- Morreu? O homem morreu? E quem era esse homem? – indagou surpresa a moça.
--- Um médium. Ele morreu ao receber um espirito ou coisa assim. Eu sei que ele morreu. Foi uma queda só. – respondeu o homem.
--- E ele era espírita? – indagou a moça ainda surpresa com a notícia.
--- Era. Ele estava com mais de sessenta anos, pelo que eu penso. Na verdade, para mim, ele morreu foi de um ataque cardíaco. E não por receber espirito. Mas Racilva acredita em tudo. Esse é o caso. – relatou a contragosto o homem.
--- É. Talvez seja. Agora é que estou me lembrando. Tem um velho, seu Neco. É assim que o povo chama. O nome é Manoel. Manoel não sei de que. Ele é espirita. E atente na sua casa. Se Racilva quiser ir a esse médium, eu posso ir com ela. Eu não sei o que ela tem. Mas quando eu era menina, eu fui várias vezes ao seu Neco. Ele é da Federação, também. Ele mora numa rua por trás do Campo de Futebol. Seu Neco ou Nequinho. Todo mundo conhece ele. E só usa roupa branca. Até os sapatos são brancos também. – sorriu Zilene Caldas ao fomentar tal fato.
--- É bom. Eu posso combinar com ela. E você? Onde podemos encontrar você? – perguntou para melhor conhecer a moça.
--- Pode ser no Jornal. Eu trabalho no Jornal. É só ligar: clic. – sorriu a moça ao dizer isso.
--- Ah bom. Então, amanhã ela fala com você. – sorriu Glauco para Zilene.
--- Está bom. Agora: cuidado com as cobras! – gargalhou Zilene ao dizer tal fato.
--- Que cobras, menina? – indagou Glauco sem saber de nada do ocorrido.

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